Antes de perceber bem o que estava a acontecer - tudo o que te conto parece avançar aos saltos, eu sei, como uma pantera que desmaia e volta a falar no exato momento em que acorda -, já estava a caminhar pelas ruas estreitas daquele lugar. Os estrangeiros que nos levavam procuravam que caminhássemos o mais rapidamente possível. As ruas eram desenhadas como linhas que separavam os vizinhos uns dos outros. Muito brancas, cobertas de palha, as casas de um lado olhavam para as casas do outro lado. Era muito estranho.
Achei, além disso, as casas muito coladas umas às outras, muito diferentes das da minha aldeia, que tinham espaço entre si. Infelizmente, antes de ter tempo de as poder observar com atenção, já tinham desaparecido.
Não é bem que não tenha tido tempo. Andar com os ferros nos tornozelos custava muito, muito mesmo, e jamais me poderia habituar àquilo. Apenas conseguia dar passinhos miúdos e titubeantes. Mal avançava uma perna, ela era dolorosamente travada pelos grilhões, tinha de fazer avançar a outra, e assim por diante. Em vários momentos pensei que ia cair. É muito difícil aprender a andar presa. Além disso, de pé, os ferros marcavam-me de outra maneira, golpeavam-me os tornozelos mais do que até aí, e ainda não achara forma de suportar aquela dor nova. Retraía a perna cada vez que ela avançava um pouco, pois logo recebia a facada das grilhetas. As minhas pernas eram martelinhos tontos espetados por canivetes.
Com as nossas cabeças amarradas umas às outras por um cabo, obrigavam-nos a andar todos ao mesmo ritmo, o que na prática era impossível. Sentia medo de tropeçar a cada passo, ou que aparecesse uma pedra na qual não tinha reparado, ou um buraco onde poderia cair. Tinha de concentrar-me no chão.
- Concentra-te no chão. Concentra-te no chão. Concentra-te no chão.
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