domingo, 23 de novembro de 2025

Comemorações

Com o aproximar das "comemorações oficiais" dos 50 anos do 25 de Novembro, muita gente tem botado faladura e uma grande maioria não sabe o que diz, ou porque ainda não tinha nascido ou andava de cueiros, ou porque lê uma pseudo-história enviesada e parcial, que pretende justificar, aos olhos das novas gerações, o que fizeram ou não fizeram algumas figuras (e figurões) que hoje pretendem a primeira fila ou, para os que já desapareceram, se envidam esforços no sentido de os colocar num centro, fictício, do "teatro das operações".

No Expresso da passada sexta-feira e no Público de hoje, Sousa e Castro, antigo Capitão e actual Coronel na reserva, encontram-se duas excelentes entrevistas de quem bem sabe do que fala e não tem papas na língua para analisar 1975, com os olhos de quem o viveu por dentro e sabe o que diz.

Apenas alguns excertos "roubados" às entrevistas publicadas, para figurarem no "arquivo" e certificarem aos vindouros que, a maioria das vezes, nem tudo o que parece, é.

Expresso: "Tentar fazer uma equivalência em termos de importância histórica e de postura do Estado entre uma revolução que derruba uma ditadura e os acontecimentos de 25 de Novembro é absurdo. No 25 de Abril muda tudo, enquanto a 25 de Novembro quase tudo ficou igual, do ponto de vista do poder. Manteve-se o Presidente da República, o primeiro-ministro e o Governo, à exceção de alguns ministros. Os acontecimentos do 25 de Novembro são apenas uma consequência do 25 de Abril. Pôr estas datas ao mesmo nível é a última coisa que eu esperaria ver. É uma tentativa muito serôdia de reescrita da História por parte deste Governo. Uma jogada política, para não dizer pior."

"Obviamente, não. Para alguém que participou na revolução que deu ao povo português a liberdade, ver uns "marrecos" dizerem que há coisas iguais ou até melhores do que o 25 de Abril dá uma revolta profunda."

" A meu ver, o general Costa Gomes é a pessoa mais injustamente esquecida da História moderna portuguesa. Foi o general mais brilhante que Portugal teve no século XX e foi ele que segurou todas as convulsões, desde o golpe miserável de Spínola a 11 de Março até à gestão de toda a crise do PREC e dos governos gonçalvistas. No dia 25 de Novembro convocou uma reunião em permanência do Conselho da Revolução logo que surgiram as primeiras notícias da movimentação dos paraquedistas e, à margem dessa reunião, ia fazendo os seus contactos. Sei que chamou o Álvaro Cunhal e deu-lhe a entender: "Esteja quietinho, porque não tem qualquer hipótese de levar a sua à frente." E o PCP mandou recuar. Costa Gomes foi a personagem mais decisiva do 25 de Novembro, a par de Melo Antunes, que escreveu o "Documento dos Nove". E até ao fim da vida tentarei honrar a memória desses dois homens." 

Público: "Na altura tivemos de lidar com o CDS, que era o partido legal mais à direita. Mas o CDS tinha gente civilizada e culta na sua liderança. Está a ver o Freitas do Amaral, o Adelino Amaro da Costa ou o Francisco Lucas Pires a reescreverem a História de Portugal? Está a vê-los a dizer: não, 0 25 de Abril não foi uma revolução, a revolução foi a 25 de Novembro? Não estou a vê-los. Hoje temo a extrema-direita institucional, que é o Ventura, do Chega, e o Nuno Melo, do CDS. O Ventura é um aventureiro político, um populista, um tipo sem cultura e sem ideias. O Melo é um político medíocre, que se deixou arrastar pelo Ventura para esta ideia de se comemorar o 25 de Novembro. O Luís Montenegro, e vou dizer isto com palavras claras, é uma pessoa muito ignorante. Com pouca cultura, que não sabe nada de história. Por isso, foi na onda. É a ironia da História."

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