Roubo, parcial, da crónica de José Pacheco Pereira, publicada no jornal Público de hoje. Está a tornar-se cada vez mais difícil encontrar quem pense, analise e diga o que lhe vai na alma, e desbrave o caminho retrógado que, parece, estamos a trilhar.
Lembro-me sempre de um meu professor, há mais de meio século, que dizia, com ênfase, "quanto mais sei, maior é a minha ignorância" e confronto-me, diariamente, com a exposição ignorante, estúpida, parva e burra, alérgica a qualquer hipótese de possível melhoria e convencida que as suas "mensagens" podem servir para alguém ou alguma coisa.
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"(...) Vejam-se estes exemplos de uma caixa de comentários na página de Facebook do Chega:
È por camara escondida para depois os visitar-mos na calada da noite. E apagar essas velas
Eles com as coécas todas mulhadas
O homem está corretíssimo, mas como é um homem onesto a grande parte desta gente mamona, ou BURRA NÃO GOSTA.
Nem mais ... é a mesma coisa aqui na englaterra ... se fore preson por mais de um ano. Compre a pena e a deportado
Estão com medo de alguma coisa! Força André Ventura, se fores presidente da República, no CHEGA a substitutos a altura para liderar o partido! CHEGA (sic)
Todos os dias, nesta página de Facebook, e por todo o lado nas caixas de comentários, escreve-se assim, e pode-se imaginar como fala quem assim se expressa. Ora, quem escreve assim não é patriota, porque despreza aquele que é um dos principais factores de identidade nacional: a língua.
Esta não é uma questão de elites contra o "povo", mas sim um confronto entre quem respeita a sua língua e quem a despreza, entre quem despreza o saber e quem sabe o que lhe falta saber. Isto hoje é uma questão política, porque a democracia precisa da consciência do valor do saber, do falar, do conhecer. Esta consciência é hoje um dos alvos preferenciais do populismo que valoriza a ignorância.
Quem, por razões sociais, não tem o mínimo de educação formal, vem de meios de vida difícil, não teve oportunidade de estudar, teve de atravessar muita dificuldade, muita miséria, tem vergonha de não falar ou escrever bem, porque tem a aguda consciência que isso é um factor de pobreza e exclusão. Quem, por outro lado, fala e escreve mal português e tem um vocabulário exíguo, pode escrever com erros de ortografia palavra sim ou palavra não, e ser muito eficaz em usar emojis de merda em linhas e linhas ou em insultar, mas não pode bater no peito nacional pelo seu país.
Uma das suas ironias é a reivindicação aos imigrantes de, para terem a legalização, saberem falar português, coisa que os seus julgadores não sabem de todo. É por isso que muitos imigrantes, a começar pelos que vieram das nossas colónias, falam muitas vezes melhor, num português impecável, e que é, para muitos deles, também a sua língua natal. Teriam vergonha de escrever a língua absurda das citações acima. (...)"
1 comentário:
Até parece que não conheces o Zé Povinho e as suas múltiplas facetas.
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