sábado, 16 de outubro de 2010

Inveja

Sou um invejoso!
Padeço de um mal muito comum no nosso país, que afecta muito mais portugueses do que a bactéria helicobacter, o cancro do colo do útero, a doença dos pézinhos, o reumático ou a rinite dos fenos. Porém, a minha inveja não provoca a reacção mais habitual de que os outros têm sempre o melhor carro, a mulher mais bonita e o melhor emprego apenas porque nasceram com o dito virado para a Lua ou foram bafejados com uma "sorte do caraças".
A minha inveja resulta daquilo que outros fizeram e que eu muito gostaria de ter sido, antes, capaz de conseguir. Esta semana, no Expresso, (não sou accionista) vêm insertos textos que me causaram um ataque do mal de que sofro, dos quais destaco algumas partes:
Henrique Monteiro - Sócrates, a fonte do problema
Aqui há um mês e meio, o Governo acusava o PSD de querer acabar com o Estado Social. Ontem, apresentou um Orçamento do Estado que o destrói. As coisas têm de ser vistas no real e não nos discursos - a retórica, a habilidade, a falsa promessa, a demagogia, o ataque soez (e lamento não me lembrar de mais palavras dizíveis) que então campearam eram injustificados.(...)
Nicolau Santos - Um sangrento massacre fiscal
Pode-se justificar com o estado de urgência em que se encontra o país, com a pressão dos mercados, com o aperto em matéria de financiamento em que se encontram os bancos e a República. Mas a proposta de lei sobre o Orçamento do Estado para 2011 só pode ser classificada como um saque brutal à bolsa dos contribuintes, um tsunami que arrasa toda a economia à sua passagem, uma bomba atómica que levará milhares de empresas a fechar as portas e milhões de cidadãos a passarem a viver bem pior a partir do próximo ano.
Além disso, é um Orçamento sem esperança.(...)

Miguel Sousa Tavares - A lição do Chile
Um a um, vou vendo sair os mineiros das profundezas do Atacama: duas madrugadas e grande parte de um dia de televisão sempre ligada, fascinado com essa extraordinária oportunidade de seguir em directo, a milhares de quilómetros, a extracção, corpo a corpo, de 33 condenados à morte de encontro à superfície, à luz e à vida. O mundo inteiro esteve, em diferentes fusos horários, preso desta transmissão televisiva planetária, que é daquelas que ficará para sempre na nossa memória, como as da chegada à Lua ou do início da Guerra do Iraque, em directo. A transmissão foi preparada ao pormenor e teve imagens inesquecíveis, como a da agulha progredindo num mostrador, da esquerda para a direita, à medida que a Fénix ia fazendo cada uma das suas ascensões ao longo dos 700 metros de túnel. Ou as fantásticas imagens recolhidas no interior do próprio abrigo, de onde a Fénix partia, desaparecendo no buraco perfurado na rocha para uma viagem que, de facto, tinha toda a carga simbólica e quase física de um parto.(...)

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