sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Inveja

Palram pega e papagaio ...


Está poisada no passadiço, logo pela manhã, ainda o sol mal despontou no horizonte. Altiva, desligada de tudo que se passa à volta, olha ao longe e não quer reparar em quem se aproxima. A cabeça não se move na direcção de quem está quase, quase a chegar-lhe. Parece não ver. Não dá quaisquer sinais de susto ou de receio. Tudo lhe passa ao lado e ao largo. 

Quando se julga que vai ser desta que fará guarda de honra aos veraneantes, levanta voo, rápida, e interna-se na vegetação dunar. Desaparece completamente. Por mais esforço que os olhos façam, não se vislumbram aquelas penas negras debruadas a branco, num conjunto harmonioso e raro. Sabe-se que está ali bem perto. Ouve-se o palrar de várias, que já se tinham precavido dos visitantes indesejáveis. A cena repetiu-se várias vezes. Nada garante que a pega rabuda fosse a mesma, mas que parecia ser, parecia.

A caminhada, prévia ao mergulho no oceano sempre agradável  ainda que, vezes demais, impregnado de algas inoportunas, tornava-se mais apetecível e motivadora quando se descortinava, lá ao fundo, a sua pose altaneira e se apreciava, invejando, a capacidade de aguentar, sem pestanejar nem tremer, as vozes, os delírios, as inconveniências, os dislates e os disparates do mundo que a rodeia.

Deve ser bom ser pega, rabuda e a preto e branco.

1 comentário:

Anónimo disse...

Praia e mar com pega altiva.