Nunca me canso de "roubar" os cartoons de António, que o Expresso, semanalmente, oferece.
Casa situada na cidade das Caldas da Rainha, "nascida" em 1976, numa rua sossegada, estreita e, desde Abril de 2009, com sentido único. Produção: dois frutos de alta qualidade que já vão garantindo o futuro da espécie com quatro novos, deliciosos. O blog é, tem sido ou pretendido ser uma catarse, o diário de adolescente que nunca escrevi, um repositório de estórias, uma visão do quotidiano, uma gaveta da memória.
sexta-feira, 31 de janeiro de 2025
segunda-feira, 27 de janeiro de 2025
Auschwitz
Há 80 anos, as tropas soviéticas libertaram os poucos judeus que haviam resistido à barbárie hitleriana.
Vamos lembrando, pedindo para não ser esquecido, desejando que não se repita mas ...
domingo, 26 de janeiro de 2025
Mal(h)as que o império tece ...
Aquele partido zangado e pregador, que se senta à direita de "Deus Ventura", perdeu um elemento de peso e já não tem meio cento. Agora são apenas quarenta e nove e o país vai sentir imenso essa diminuição. Por enquanto, vamos ter de conviver com esse descalabro, que talvez não fique por aqui.
E tudo isto porque, alegadamente, um ser inspirado e distraído desviou umas quantas malas das passadeiras dos aeroportos de Ponta Delgada e de Lisboa, nas múltiplas viagens de e para os Açores de que usufrui à conta do orçamento.
O homem não se explica claramente e com toda a razão. O processo está em segredo de justiça e isso rouba-lhe a memória, como toda a gente sabe. Para além disso, a presunção da inocência e o decorrer do tempo hão-de dar-lhe todas as hipóteses de lavar a honra, dispensando-lhe a inusitada tarefa de assumir o que fez. Nota-se claramente, na forma como o dito cujo explica o acontecido, que ele nunca roubou malas ... apenas umas quantas lhe acharam tanta graça que não resistiram em partilhar o seu conforto e ir com ele para a sua casinha ou, talvez até, para a sua caminha.
E continua a ser deputado da Nação, sem o mínimo de vergonha e com maior rendimento porque:
"Tem a consciência muito tranquila"
sábado, 25 de janeiro de 2025
"Trumpada"
Chapéus há muitos!
A clareza, a beleza, a actualidade e o "risco" do cartonista António, no Expresso desta semana.
sexta-feira, 24 de janeiro de 2025
24 Janeiro
Sem números, que a matemática não é o meu forte e eles, nesta altura, (já) não são importantes.
Apenas música ... da boa!
terça-feira, 21 de janeiro de 2025
Livros (lidos ou em vias disso)
"(...) Os tamarindos, além de servirem para compotas, também tinham uma vantagem particular para ele. Chupava os frutos e guardava as sementes castanho-pretas no bolso dos calções. Uma semente, quando esfregada durante meio minuto no chão cimentado de uma sala, aquecia bué. Ele se inclinava na carteira da escola para esfregar a semente no chão sem a professora ver e, quando estava bem quente, tocava com ela na perna da colega sentada à frente. Sucedia sempre um grito da menina, pois aquilo queimava mesmo. A professora nem precisava de perguntar quem tinha feito a maldade, o próprio Santiago levantava do assento com um resignado encolher de ombros e ia se ajoelhar num canto da sala, virado para a parede. O castigo era esse, ficava durante o resto da aula ajoelhado sem nada mais ver, só a parede. Doía mais o castigo do que a queimadura leve na perna da menina? Não se podem comparar as dores. Doíam. A menina, solidária e já esquecida da maldade, depois vinha lhe perguntar se os joelhos estavam muito mal e ele dizia, não é nada, vamos correr até no muro, te ganho de dez metros. Corriam, em competição feliz. Não fazia aquilo para lhe causar sofrimento, era uma brincadeira de criança, ela sabia perdoar. Se chamava Rita e tinha muito bom feitio, sorte de Santiago, como dizia a mãe dele, cansada de ouvir as queixas da Dona Esmeralda, mãe de Rita. Porque lhe fazes aquilo, não percebes magoa? Rita não queixava na mãe, a senhora é que notava as nódoas na perna da filha e a obrigava a confessar, quem te fez isto?, sabendo muito bem qual a resposta. Perguntada a razão do crime, Santiago respondia, não sei explicar, juro mesmo sangue de Cristo, o que exasperava os pais e demais familiares. Não sabes? E ainda por cima meteres Cristo no assunto? Apanhava castigo. Mas não podia evitar, uns dias depois reincidia.
Se tudo tivesse uma explicação, era tão fácil viver. (...)"
segunda-feira, 20 de janeiro de 2025
Casa Branca
Nem o frio, o vento ou a aba do chapéu da madam conseguiram desmanchar a poupa amarelada, bem penteada que, a partir de hoje, volta a mandar no mundo.
Será a laca usada de fabrico chinês?
domingo, 19 de janeiro de 2025
Actualidade
A banda Cara de Espelho proporcionou ontem um excelente concerto a todos os que deixaram o quentinho do borralho e foram passar um bocado da noite ao CCC.
Espectáculo cheio de boa música, com letras críticas, algumas bem mordazes, todas cheias de actualidade.
Quem viu, viu e sentiu. Quem não foi, chuche no dedo e delicie-se com esta:
sexta-feira, 17 de janeiro de 2025
Palavras bonitas
À BELEZA
Não tens corpo, nem pátria, nem família,Nem te curvas ao jugo dos tiranos.Não tens preço na terra dos humanos,Nem o tempo te rói.És a essência dos anos,O que vem e o que foiÉs a carne dos deuses,O sorriso das pedrasE a candura do instinto.És aquele alimentoDe quem, farto de pão, anda faminto.És a graça da vida em toda a parte,Ou em arte,Ou em simples verdade.És o cravo vermelho,Ou a moça no espelho,Que depois de te ver se persuade.És um verso perfeitoQue traz consigo a força do que diz.És o jeitoQue tem, antes de mestre, o aprendiz.És a beleza, enfim! És o teu nome!Um milagre, uma luz, uma harmonia,Uma linha sem traço ...Mas sem corpo, sem pátria e sem família,Tudo repousa em paz no teu regaço!OdesMiguel TorgaGráfica de CoimbraNota: Miguel Torga faleceu em Coimbra, há exactamente 30 anos
quinta-feira, 16 de janeiro de 2025
Médio Oriente
O acordo estava na mesa há oito meses e, segundo Biden, não teve qualquer alteração. Nem uma vírgula.
A poupa do outro, que irá entrar em cena na próxima semana, veio dizer ao mundo, através das redes, que só tinha havido acordo graças à sua sapiente intervenção.
Ao contrário de ontem, as notícias de hoje já não são tão optimistas e parece que o governo de Israel não ratifica o que os seus representantes haviam combinado lá nas profundezas do petróleo, digo, do Catar.
A destruição continua; as mortes prosseguem; o ódio, recíproco, agiganta-se.
Até quando?
terça-feira, 14 de janeiro de 2025
E chato ...
Se eu não fosse uma pessoa discreta, descreveria o que vai pelo mundo como um cacharolete de interesses, egos, vaidades, poupas amarelas e lacadas, caras de pau destilando raiva, peneirentos em busca de lacaios, "sabões" que nunca passarão de "sabonetes" e dos bem pequeninos.
A discrição impede-me de fazer uma descrição exaustiva do que por aí vai, a começar nos atentados de guerra, passando pelos da gramática, pelos discursos a justificar o que não tem justificação, os perigos disto e daquilo, com erros ortográficos pelo meio e percepções resilientes que se atropelam continuamente.
Há muita gente à procura de protagonismo, poucos em busca do saber, muitos a necessitarem de "dez réis" de humildade, outros tantos a precisarem de educação e ainda, bastantes, a cuspir para o chão.
Ler, estudar, aprender, para quê?
Está tudo na Net e o que não está, compra-se!
segunda-feira, 13 de janeiro de 2025
Feiras
Estaremos todos preparados para o salsifré que está a acontecer na comunicação social?
Saberemos distinguir o que vale a pena ler, ver e ouvir, do que é lixo puro?
Apesar das grandes tiradas analíticas que enxameiam todos os canais, não estaremos a recuar aos tempos do "para cúmulo da chatice, tanto falou e nada disse"?
A informação parece uma feira onde uma grande parte dos responsáveis políticos e dos profissionais da dita vende cobertores e banha da cobra!
domingo, 12 de janeiro de 2025
Cuidados
Maré baixa, ondas medianas, muita espuma e muita areia, "aberta" a contrariar-se e a mostrar-se quase fechada e muito envergonhada, sem vento nem banhistas.
Das Berlengas, nem rasto: talvez escondidas, na procura de discrição e reserva, com receio de que Trump ainda se lembre de também as querer comprar. E se ...
quarta-feira, 8 de janeiro de 2025
Eça no Panteão
Era o tempo das Bibliotecas Itinerantes, serviço extraordinário com que a Fundação Gulbenkian levou livros a todos os recantos de Portugal. Já lá vão sessenta anos, ou mais.
Fui "cliente" da carrinha durante bastante tempo e, enquanto isso, foi de lá que trouxe a maior parte dos livros que li. O senhor da carrinha, motorista e bibliotecário, deve ter achado piada ao miúdo que, mensalmente, a ele se dirigia entregando os livros do mês anterior e levando mais dois ou três para o seguinte.
- Já leste tanto que hoje vou dar-te uma surpresa. Lês, não comentas e devolves no próximo mês.
Dobrou-se e, lá de baixo, retirou um livro com uma cinta vermelha. Juntou ao outro que tinha sido escolhido e entregou-me os dois. Não me lembro do que escolhi mas nunca mais me esqueci daquele que o senhor da carrinha elegeu, com um sorriso malandreco.
Devo ter lido "A Relíquia" em dois ou três dias e nunca mais esqueci o livro e a forma como a ele tive acesso. Quando pude, foi dos primeiros (terá sido o primeiro?) que comprei.
Hoje, os restos mortais de Eça de Queiroz foram trasladados para o Panteão Nacional, com a pompa que o grande escritor merece. Fica por lá a fazer companhia a grandes escritores - Sophia, Aquilino - e a outras personalidades portuguesas de relevo.
Por aqui, de vez em quando e sempre com deleite, passo os olhos por alguma das suas grandes obras. E concluo sempre: Eça escreve tão bem!
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"... Estava salvo! Rapidamente, ajoelhei à beira do caixote, cravei o formão na fenda da tampa, alcei o martelo em triunfo ...
- Teodorico! Filho! - berrou a titi, arrepiada, como se eu fosse martelar a carne viva do Senhor.
- Não há receio, titi! Aprendi em Jerusalém a manejar estas coisinhas de Deus! ...
Despregada a tábua fina, alvejou a camada de algodão. Ergui-a com terna reverência: e ante os olhos extáticos surgiu o sacratíssimo embrulho de papel pardo, com o seu nastrinho vermelho.
- Ai que perfume! Ai! ai, que eu morro! - suspirou a titi a esvair-se de gosto beato, com o branco do olho aparecendo por sobre o negro dos óculos.
Ergui-me, rubro de orgulho:
- É à minha querida titi, só a ela, que compete, pela sua muita virtude, desembrulhar o pacotinho! ...
Acordando do seu langor, trémula e pálida, mas com a gravidade de um pontífice, a titi tomou o embrulho, fez mesura aos santos, colocou-o sobre o altar; devotamente desatou o nó do nastro vermelho; depois, com o cuidado de quem teme magoar um corpo divino, foi desfazendo uma a uma as dobras do papel pardo ... Uma brancura de linho apareceu ...
A titi segurou-a nas pontas dos dedos, repuxou-a bruscamente - e sobre a ara, por entre os santos, em cima das camélias, aos pés da cruz - espalhou-se, com laços e rendas, a camisa de dormir da Mary!
terça-feira, 7 de janeiro de 2025
Premonição
Via-se Peniche lá ao fundo, logo a seguir ao Baleal; as Berlengas estavam no horizonte e mostravam bem a sua silhueta; o mar começava a encher e as ondas já indiciavam o tamanho XL; as nuvens faziam um esforço por esconder o sol. Vingativo, o astro-rei espreitava sem pedir licença e exibia-se aos poucos.
Perante este cenário, a conclusão é clara e simples: amanhã vai chover!
segunda-feira, 6 de janeiro de 2025
Arrumação
A casa, o escritório, os quartos, qualquer divisão, até a casa de banho, devem estar sempre bem arrumados, para não parecer que há desleixo e para ser fácil encontrar qualquer coisa de que se precise. Tudo tem o seu lugar e o hábito, a repetição, a lógica, facilitam a tarefa e dispensam a necessidade de pensar muito quando se precisa de algo. Desta vez, o que parece impossível aconteceu.
- Onde parará o livro?
Só pode estar aqui, ou ali, ou acolá! Perdido não está. Nem saiu de casa ...
Uma luta incessante, abaixo e acima, aqui e ali, talvez acolá. Tão estranho. Sem resultado! São horas de ir dormir e faz parte da rotina ler qualquer coisa.
- Bom, vou buscar o próximo. Sem ler é que não fico. Pode ser que apareça durante a noite ...
Estará no carro? Não! Caiu e está debaixo de algum móvel? Claro que não! Voltou ao seu lugar na "biblioteca"? Já verifiquei! Na cama não ficou nem no WC, último sítio de leitura, se a memória não atraiçoa. E o sono tardava.
- Parece bruxedo!
Não foi! Só "nabice"!
Era necessário consultar os passaportes e eles estavam na gaveta, cobertos por alguns outros documentos que saíram, para a remoção ser possível. O livro, que ainda estava na mão, foi colocado em cima do móvel e foi tapado pelos documentos retirados, sem sequer ter um queixume que avisasse o distraído.
A rotina e a preocupação em manter a arrumação recolocou os documentos no sítio e nem deu pelo peso e volume aumentados. O livro foi junto e por lá ficou, sossegadinho, tão bem acompanhado que não tugiu nem mugiu quando, depois de um sono em sítio tão desconhecido quanto recôndito, foi apanhado e voltou à sua obrigação: continuar a ser lido!
sexta-feira, 3 de janeiro de 2025
Balanço 2024
Procurando não perder o hábito enquanto o tempo, a cabeça e os olhos me forem permitindo, juntei mais umas dezenas de livros ao "inventário", longo, das leituras que constam do meu "arquivo cerebral", arquivando na "pasta" de 2024, para que não haja misturas nem confusões. Para ser completamente claro e verdadeiro, o "arquivo" físico está bem longe de responder como antigamente e, para segurança, é melhor registar cópia real e verdadeira na "nuvem", em vez de confiar na caduca memória.
De pouco servirá, mas é uma forma de recordar o que foi lido, sempre com prazer, mesmo quando a obra não correspondeu à expectativa. E sempre até ao fim! Por vezes, nas últimas páginas surgem surpresas inesperadas.
Ficam as capas, para memória futura.