Da crónica de Pacheco Pereira, hoje no Público, respigo:
(...) Mas, resumindo e concluindo, três coisas contam nesta pandemia: vida, cultura e dinheiro. Infelizmente, estão todas muito mal distribuídas, em particular a última. Mas, pelo menos na cultura, sempre se pode combater a incultura que cresce perante a cobardia e a inércia de muitos que acham que esta é a "realidade" dos nossos tempos e não há nada a fazer. Há e muito. Não é remédio absoluto, mas ajuda. (...)
No Dia Mundial da Poesia, dois poemas de Eugénio de Andrade, para deleite de quem espera, e acredita, que virão melhores dias e que, apesar de tudo, o mundo não vai acabar.
Mas vai ser diferente, vai, vai!
CONSELHO
Sê paciente; espera
que a palavra amadureça
e se desprenda com um fruto
ao passar o vento que a mereça.
OS AMANTES SEM DINHEIRO
Tinham o rosto aberto a quem passava.
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.
Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.
Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio
à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.
Eugénio de Andrade
Fund.Engénio de Andrade (2000)
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