sábado, 13 de abril de 2024

Livros (lidos ou em vias disso)

Está a terminar a leitura de um grande livro - mais de 400 páginas - que me tem ocupado nos últimos dias. Fez-me reviver muitas histórias, conhecer muitas outras, saber pormenores de assuntos que estavam na penumbra ou já tinham desaparecido da gaveta memorial.

O antes e o depois do 25 de Abril percorrem todas as páginas, despertando o interesse para a seguinte e obrigando a memória a reter o relato da anterior, mesmo que nela se registem apontamentos sobre a Foz do Arelho ou se contem episódios de Coimbra, de Torga ou de Adriano, com o registo imperativo de que "mesmo na noite mais triste, em tempos de servidão, há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz NÃO.

"(...)

Melancolia democrática

Mas os tempos tinham mudado. Já não havia a dimensão heróica da resistência nem o entusiasmo e as ilusões líricas da revolução de Abril. A normalização trouxera consigo aquilo a que o francês Pascal Bruckner chamou a <<melancolia democrática>>, a democracia sem festa nem fervor revolucionário, um certo cinzentismo com alternância mas sem alternativa. Em França, Itália e noutros países os velhos bastiões da esquerda esvaziavam-se e, em breve, votariam na extrema-direita. Os partidos socialistas e sociais-democratas deixavam-se colonizar pelo neoliberalismo, aderiam à <<terceira via>> e, como várias vezes disse, há muitos anos, corriam o risco de se tornarem historicamente desnecessários.

Eu não conseguia desfazer-me daquilo a que Eduardo Lourenço chamou <<a nostalgia da epopeia>>. Na escrita e na vida. Era tempo de, sem abandonar a intervenção, me voltar cada vez mais para a escrita. (...)"

Manuel Alegre
Memórias minhas
D. Quixote (2024)

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