sexta-feira, 24 de maio de 2024

Livros (lidos ou em vias disso)

Quanto mais sei, maior é a minha ignorância, "gritava" um professor que tive no ISCAL, há muitos, muitos anos. Quase todos os dias (para não dizer todos) confirmo esta grande verdade. E, neste livro de Martim Sousa Tavares, confirmei-o uma vez mais, como se isso fosse necessário.

"(...) Para analisar a cultura e aprender sobre ela, é preciso fazer como fazem os cientistas: colher uma amostra, isolá-la e estudá-la separadamente, avaliando depois o ambiente de onde foi retirada e integrando o mosaico do seu contexto alargado.

Aos jovens é frequentemente dito que são uma geração desprovida de cultura, quando na verdade não há nada de mais errado. Nunca existiu uma geração sem cultura e, se alguma houvesse, não seria certamente a de quem é jovem nos dias de hoje. Aquilo que há são portas por abrir e pontes por construir. Existem, de facto, muitos jovens que são alheios a aspectos da cultura que as gerações mais velhas consideram fundamentais, tal como existem cada vez mais pessoas envelhecidas que não compreendem nem se relacionam com a cultura dos jovens. A equação funciona para os dois lados e nenhum tem maior culpa. Simplesmente é como é. A vertigem de um mundo em permanente digitalização vai fazendo com que, mais do que nunca, se rompam laços entre quem fica dentro e quem fica de fora, quem vai à frente e quem fica para trás.

No fundo, o que importa é não perder o ânimo: aproximar e misturar culturas, e promover a permeabilidade da nossa superfície social. Não negar a ninguém o direito à auto-representação, mas também não esconder que seria bom que mais pessoas tivessem a capacidade de ler com sentido crítico, ouvir com uma escuta atenta e respeitar o silêncio nos momentos certos. Todos temos cultura, sim, mas melhor do que isso é sair de casa e ser participante activo na vida cultural da nossa comunidade. Todos temos cultura, sim, mas ninguém a tem em quantidades tais que se possa dar por satisfeito e fechar as portas ao mundo. (...)"

Falar piano e tocar francês
Martim Sousa Tavares
ZigurateZigurate (2024)

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