sexta-feira, 3 de maio de 2024

Aparelhinho

Os tempos vão de molde a todos sermos enciclopédias de saber e de fazer, quase sempre bem melhor do que qualquer outro que, ele sim, fica sempre aquém e a léguas de distância. O "eu" sabe sempre mais do que o "nós" e muito, mas muito mesmo, mais do que os outros.

"Presunção e água benta ... cada um toma a que quer."

Passámos a ser todos fotógrafos, sem necessidade de saber revelar, conhecer lentes, ter perspectiva e sensibilidade, sequer usar uma máquina fotográfica. O aparelhinho faz tudo ... e bem!

Descobrimos que podemos dar (e fazer) notícias bem melhor do que os ditos jornalistas, que chegam sempre atrasados e, muitas vezes, já com o assunto ultrapassado. O aparelhinho divulgou tudo na hora e obteve milhares de likes num abrir e fechar de olhos.

Tudo indica que esta coisa de escrever também se encaminha para a gaveta das memórias, nas profundezas do edifício mais antigo e em ruínas. A "Inteligência Artificial" já está disponível vinte e quatro horas. Sem trabalho e num instante, pode produzir "calhamaços" com o tamanho desejado, sobre os assuntos que tenham mais interesse para serem consumidos sem causar problemas de digestão. De igual modo, neste tema, o desempenho do aparelhinho é fantástico.

Acresce que, nesta altura da vida, todos sabemos muito de finanças, economia, sociologia, carpintaria, construção, cálculos de estabilidade, comboios e aviões, peixes e lebres, culinária e medicina, clima e futebol, tudo sapiências ao alcance de todos, apenas com o clic no aparelhinho e sem necessidade de perder tempo com "marranços".

Depois admiram-se de, nos 50 anos de Abril, as sondagens mostrarem que mais de 80% da população gostava de ter um líder forte. Alguém que mandasse na democracia, digo eu! 

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