quinta-feira, 9 de novembro de 2006

A Orquestra (Parte 2)

Junto ao rio, a narceja partia para mais uma expedição, assinalando essa partida com um silvo conhecido de todos os habitantes da floresta mas que sempre assustava o cisne, concentrado nos seus bailados aquáticos e em algum peixinho distraído que aparecesse ao alcance do seu mergulhador bico.

A toutinegra e a felosa colocavam o seu canto em contraste com o grito lancinante do gaio, cujo azul das penas se confundia com o celeste, mas não era tão belo como o da sua prima pega, de quem invejava a beleza e a facilidade com que sempre conseguia os lugares mais difíceis e mais belos dos pinheiros mais altos.

O chapim, pequenino e sem grande músculo, procurava os pequenos arbustos, de quando em vez uma aventurazita numa figueira já de algum porte, em busca de um fruto mais maduro, mas o que ele adorava mesmo era baloiçar no canavial, ao sabor do vento, esforçando-se por cantar bonito, com a certeza de que poucos o ouviriam e, se calhar, nenhum lhe prestava atenção. Um dez réis de gente! Por vezes, quase caía à água, quando um pato real por ali passava, em velocidade supersónica, semelhante à dos aviões que ainda estavam por inventar, e sem respeito nenhum por quem ali estava em reflexão e a dar curso à sua veia artística. O cartaxo fazia-lhe companhia, de quando em vez. E era ouvi-los, à compita, a tentar extrair da garganta um som cada vez mais belo.

(Continua)

1 comentário:

Anónimo disse...

Ola Rolando, esta td bem? Temos verao cá na cidade hein?
Um grd abraço que tenho de ir ver o chocolate ***