sexta-feira, 10 de novembro de 2006

A Orquestra (Parte 3)

Na floresta vivia também o grilo que, não sendo ave, tinha uma queda especial para a música. E como ele gostava de ouvir os outros, muito mais até que a si próprio, aqueles que já se mencionaram e os tentilhões, os verdilhões, os piscos, os pintarrôxos, as perdizes e as galinholas, os guarda-rios e as fuinhas, a cotovia e a carriça e tantos, tantos mais ... O grilo passava toda a sua vida à procura de um bom buraco para as suas meditações e isso permitia-lhe aperceber-se da beleza individual de cada som, e também do desagradável ruído de todos a cantar ao mesmo tempo, sem nexo nem harmonia.
Até magoava os tímpanos que, num corpinho tão frágil, não eram lá grande coisa. Num dia em que a chuva, forte, não permitia a saída do buraco, tirava a alegria aos cantores, e tornava a floresta fria, tristonha e melancólica, fez-se luz na pequena cabeça do grilo, que saltou de alegria e só não disse Eureka! porque esta palavra só se celebrizaria muito mais tarde quando Arquimedes a pronunciou.
- É isso mesmo! Vamos fazer uma orquestra!
Esquecendo a chuva, o grilo falante saltou do buraco e foi à procura da cigarra. Era tida como uma grande cantora, senhora duma linda voz, por certo aceitaria colaborar no projecto.
- Mas porquê, grilo falante, para que queres tu uma orquestra!?
- Para juntar o melhor de cada um e fazer um som melhor para todos, respondeu, de pronto, o nosso grilo.
- Não estou interessada! Quero fazer a minha carreira a solo! Além disso, dos outros ninguém canta como eu ... só desafinam e ... agora deixa-me fechar a porta que este frio pode fazer mal à minha garganta e impedir-me de cantar no Verão.
(Continua)

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