terça-feira, 7 de julho de 2020

Isto e o seu contrário

A situação actual no país, e no mundo, faz-nos sentir embaraços, dúvidas e ansiedades que não esperávamos nos estarem ainda reservadas.
É a vida, dirão muitos, com toda a razão. Pelo menos pensando assim dormimos mais descansados.
As notícias mais recentes sobre a TAP, a EDP, o Sócrates, a queda do PIB, o turismo, o desemprego, o orçamento, a oposição, o governo, as presidenciais, o corona, o Bolsonaro, o Trump, o racismo e os refugiados, a miséria e as desgraças, os comentários, as opiniões, as certezas dos mesmos e as dúvidas da grande maioria, transmitem-nos angústia numa altura em que a mobilização e o querer deviam ter primazia e a sensação de se ser enganado nem por um bocadinho poderia vir ao nosso espírito.
Todavia ...

Quando era jovem, contava-se que Bocage tinha um dia entrado num café e pedido:
- Meia dúzia de pastéis de nata, por favor.
O empregado, solícito, colocou os bolos numa caixinha, bem arrumados e ainda quentinhos, pôs a tampa e a caixa em cima do balcão.
- Pensei melhor. Prefiro antes meia dúzia de pastéis de feijão. Têm tão bom aspecto.
- Sem problema, trocam-se já. 
Nova caixa, agora com pastéis de feijão. Bocage pega nela e encaminha-se para a saída.
- Ó senhor Bocage, esqueceu-se de pagar os pastéis de feijão.
- Não me esqueci. Troquei-os pelos de nata. 
- Mas também não pagou os de nata!
- Como quer que os pague se os deixo aí.
E saiu porta fora, por certo a salivar e ansioso por deglutir o feijão e o açúcar dos pastelinhos.
Imagino como se deve ter sentido o empregado, sem argumentos para contrariar tal evidência. É a vida!

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