quarta-feira, 15 de julho de 2020

Alcunhas

Eram poucos os conhecidos pelo seu nome próprio. Menos ainda os que se conheciam os apelidos e raríssimos aqueles que a sociedade reconhecia pelo nome completo.
O "direito" a ser conhecido e tratado pelo nome registado era privilégio de uns poucos, normalmente provenientes de famílias abastadas, bem conhecidas e consideradas.
As crianças eram identificadas como filhos deste ou daquela, sendo os progenitores referenciados pela alcunha de todos conhecida. 
A alcunha resultava, normalmente, da profissão desempenhada, dos antepassados, de assinalar qualquer defeito físico ou ter "nascido" por acto público menos considerado ou mais ousado.
Quando ainda rareavam os nomes das ruas e os, hoje imprescindíveis, números de porta, não era raro o carteiro andar de carta na mão, indagando por um fulano que ninguém sabia dizer quem era. Depois de muito questionar e de muitas negativas, aparecia alguém, normalmente familiar ou muito próximo do procurado, e dizia:
- É o ...!
A alcunha identificava-o e, afinal, toda a gente o conhecia, até o carteiro.
A ironia e a capacidade de, numa simples palavra, fazer uma identificação completa ainda hoje nos fazem sorrir quando são recordadas.
Aqui ficam alguns exemplos de muitos conhecidos, para memória futura: Bola, Bufa-Pum, Caracoleiro, Casaleiro, Cavete, Cebola, Chato Miúdo, Chumbinho, Espanhol, Estica, Fandoca, Foge-ó-vento, Guarda-a-burra, Índio, Lagancha, Laparra, Larau, Lavarinto, Loca, Marmelo, Mau, Minhas, Minhoca, Moleiro, Nopla, Pajeca, Palhaço, Pexeca, Pepino, Pernicas, Pica-milho, Piranga, Pivete, Preto, Roto, Sola, Tarata, Tijela, Tonico, Trigueiro, Valente, Viajante, Zézico, etc. etc..

Sem comentários: