Escrita diferente.
Um conjunto de histórias com História, com vida, com sentido.
Curtas quase todas, algumas curtíssimas, de uma frase apenas, todas de longo alcance.
Novas visões e novas maneiras de contar a vida "aos outros, a nós mesmos, e àqueles que vêm depois de nós".
"Trabalha como empregado de balcão numa perfumaria dentro de uma loja-armazém. É quase sempre um dos primeiros a chegar à grande superfície. Antes dele, só os seguranças encarregados de abrir as portas e os senhores da limpeza responsáveis por deixar tudo brilhante a cada dia. Entra no armazém ajeitando ainda a gravata, depois sobe quatro lanços de escadas rolantes. Vai quase imóvel nas escadas, tirando todo o partido daquele mecanismo que levanta os corpos sem que os corpos se esforcem. Do alto do mecanismo ele observa tudo, e tudo lhe parece visto desde o Evereste. Quando chega ao balcão que lhe compete, retira os óculos por um momento. Limpá-los com um pano de seda é como sentar-se no pico da montanha, meditando sobre todo o esforço mental, visual e sentimental que requereu aquela subida."
Flecha
Matilde Campilho
Tinta da China (2020)
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