domingo, 2 de julho de 2023

Livros (lidos ou em vias disso)

A inscrição, desde o seu início, no Clube Tinta da China, tem-me proporcionado a leitura de muitos e bons livros antes de chegarem ao mercado normal. Surgem perto do final de cada mês, sem qualquer divulgação prévia, e o abrir da caixa, o desembrulhar - o livro vem cuidadosamente embrulhado -, a descoberta do segredo, proporcionam um misto de entusiasmo e curiosidade sempre intensos, que o guia de leitura ainda mais aguça. Depois, é acabar rapidamente o que se está lendo ou, até, suspender, para se iniciar a descoberta.

No final de Junho, a surpresa foi um novo livro de A.M.Pires Cabral, cuja leitura já vai a meio e que retrata a vida num quartel mais ou menos imaginado. A data da edição indicada é Agosto de 2023.

"(...) O Leitor deve ter reparado que na parte da história já contada veio a propósito falar mais que uma vez de alcunhas. Como ainda há muitas alcunhas por referir, talvez faça sentido introduzir aqui um parêntesis que, ao mesmo tempo que discorre sobre alcunhas, constitui um momento de descompressão que é bem-vindo, numa altura em que a história começa a ganhar intensidade, dramatismo e suspense.

<<Um regimento sem alcunhas é como um gato sem unhas>>, diz muitas vezes o Comandante do RA-7, quando vem a propósito. Aparentemente, quer ele dizer que as alcunhas são uma arma de defesa e ataque dum regimento, tal como as unhas o são dos gatos. Mas não se chega a perceber qual o fundamento da comparação e ele escusa-se a explicar. Talvez o Comandante quisesse antes significar que é tão natural haver alcunhas nos aquartelamentos militares como unhas nos gatos. Mas, cá para nós, o mais provável é que o aforismo encontrasse na rima a sua única razão de ser e que, além de rimarem, não há qualquer outro ponto de contacto entre unhas e alcunhas.

De qualquer maneira, o Comandante usa frequentemente o anexim. O Comandante, nos seus ócios, que não são muitos, gosta de reflectir sonolentamente sobre assuntos como este das alcunhas. Diz ele que pensar pequeno é um bom tirocínio para quando é preciso pensar grande.(...)"

O quartel ou as bochechas do general
A.M.Pires Cabral

P.S. - Ontem almocei com um grupo de amigos que, há mais de meio século, se apresentaram comigo, nuzinhos em pêlo, perante um conjunto de três oficiais do exército que a todos mandaram subir para a balança, anotaram os pesos, ordenaram o perfilar na craveira e registaram as alturas, questionaram sobre a existência de carta de condução e carimbaram um papel com a palavra "APTO". Já faltam "peças" no grupo, mas lembrei-me do livro porque, como nele, também todos tinham (e têm) alcunhas. 

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