terça-feira, 18 de julho de 2023

Livros (lidos ou em vias disso)

"(...) Sonho: emigração. Projeto: aprender alemão. Das Kind, der Junge, der Mann. Criança, menino, homem, em alemão ainda não sei quem sou. Digo der Mann e é um erro, a resposta certa é menino, sonho ser um menino alemão a trabalhar numa empresa alemã. Engenharia alemã. Aprender alemão enquanto faço sexo,. Primeiro conhecer a mulher certa, não tem de ser alemã. Se aprender alemão é complicado? Não é, as pessoas complicam, porque não sabem. Por exemplo, eu não sei nada sobre sexo.

O alemão foi a língua dos invasores e depois a língua das vítimas. Já fomos de tudo, estamos a adaptar-nos, foi tão rápido que esquecemos detalhes da língua. Wunderbar, para mim, é um bar aberto cheio de maravilhas. Nunca vi um na vida. A humanidade não faz outra coisa senão humanismo. Devia fazer mais coisas.

Isaac conduz o último autocarro da noite. Gosta de chorar e olhar as lágrimas no espelho retrovisor. É isso ou dizer poesia. As pessoas preferem que chore, há quem baixe a cabeça, quem aplauda com a ponta dos dedos. A Alemanha está a muitas horas de autocarro, a Alemanha já esteve aqui, a Alemanha já veio ter connosco. É fácil emigrar para a Alemanha sem atravessar o Rio Grande nem o Mar Mediterrâneo. Uma das vantagens de ser europeu é emigrar a pé. É só metermo-nos ao caminho, pé ante pé. (...)"

A mãe e o crocodilo
José Gardeazabal

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