"(...) PRIMEIRA COMADRE: Não ouve, comadre? O mafarrico quer continuar a fazer de cego!
FALSO CEGO: Não, senhora. Fui cego até agora, mais nada. Isto (sacode a venda) é a prova! Fui cego. Fui! Mas hoje a boa hora soou para o povo. Pelas frestas deste trapo conheci o padre Cano. Presenciei o medo que vai na tropa, e, nesses montes além, vi o Ruivo e mais três sargentos a entregarem-se ao bando do Académico. Andando por toda a parte, tudo soube, tudo ouvi. De Coimbra vêm estudantes, Vila Real já se rende, fogo para aqui fogo para ali, bala vai, bala vem, e - poder do mundo - as vilas levantam-se pela Maria da Fonte.
SEGUNDA COMADRE, PARA A OUTRA: E ele, cego.
PRIMEIRA COMADRE: Pudera. O mundo está para os cegos.
FALSO CEGO: Nem mais. Se não tivesse feito o que fiz nunca teria as vantagens que tive.
SEGUNDA COMADRE: Que vantagens?
PRIMEIRA COMADRE: Sim, que vantagens?
FALSO CEGO: As vantagens de ser cego.
(Pega na viola e canta)
AS VANTAGENS DE SER CEGO
Perguntaram ao cegose ele não ia às eleiçõesnem dava contribuiçõese mais impostos devidos."Assina, escolhe os mandõesque há muito estão escolhidos."
"Senhor, respondeu o cego,"Eu sou cego, cego, cego,E o meu rosto jamais vi.Desconheço a minha letraE de quantos nos governam." (...)
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