terça-feira, 5 de março de 2024

Prazeres

Para quem gosta muito de ler e também de comprar livros, é sempre um grande prazer ouvir a campainha e, pela janela, verificar que o carteiro quer entregar uma encomenda. Foi o que aconteceu hoje e a caixa trazia três livros de Manuel S. Fonseca ou da sua coordenação. Dois deles haviam sido pagos, o terceiro era oferta, como reconhecimento da "qualidade" do cliente. "25 de Abril, no princípio era o verbo", com ilustrações de Nuno Saraiva; "O pequeno livro dos grandes insultos" e "Que Salazar era o Salazar de Fernando Pessoa", todos da Editora Guerra  Paz.

Apenas folheei o "Salazar", personagem que, nunca o esquecerei, partiu na véspera do dia em que tirei a carta de condução e cujo enterro por pouco não impedia a realização do exame. A personagem não me desperta qualquer entusiasmo, mesmo "interpretado" por Fernando Pessoa. Os outros dois, li-os de um fôlego, que quem espera, desespera. Diverti-me "imeeenso", como diria se vivesse lá para os lados de Cascais. 

De "O pequeno livro dos grandes insultos" não me atrevo a comentar e muito menos a transcrever. Ficaria tão corado quanto as camisolas do Benfica (antes da goleada nas Antas). 

Vamos ao que importa: o livro sobre o 25 de Abril faz uma breve cronologia dos factos do dia da revolução (com precisão, diga-se) e depois transcreve muitos dos escritos, ditos, cenas, slogans, a maior parte dos quais foram "escarrapachados" nas paredes de Lisboa pela irreverência anarquista da época. E são tantos, tantos, muitos que a memória já tinha arquivado. Eis apenas alguns exemplos: "Não aos organismos de cúpula, sim aos orgasmos de cópula", "A terra a quem a trabalha, mortos fora dos cemitérios, já!", "Abaixo o sabão amarelo, abaixo a tinta da China, independência nacional", "Abaixo a reacção, viva o motor a hélice", "Se Deus existe, porque não se recenseou?", "Nem mais um anticiclone para os Açores, nem mais um faroleiro para as Berlengas", "Cimbalino ao poder, abaixo o café de saco, morte à cevada reaccionária", "Abaixo a exploração sexual da galinha. Cada um ponha os ovos de que precisa", "Inter 2 - Sindical 0", "Abaixo a foice e o martelo, viva o Black and Decker".

Por mais que apareçam uns quantos "inteligentes" a quererem eliminar, quem viveu nunca esquecerá. 

1 comentário:

Anónimo disse...

Quase 50 anos depois, é bom recordar.
E há muita coisa que não deveremos esquecer. Outras, que não se repitam.