No Dia Mundial da Poesia, palavras tão antigas e tão actuais.
GUERRA
Quando Francisco Charruachegou ao largo gritando:- Eh! gente, estalou a guerra!Zé Gaio de alvoroçadopôs-se a bater o fandango.Os outros só pelos olhosfalavam surpresa, esperança:- Será agora? Talvez ...!Mas Zé Gaio tinha a certeza:estava a bater o fandango! ...Já vão dois anos passados.Agora a telefoniada venda, à esquina do largo,informa todas as noites:"Uma esquadrilha inimigabombardeou a cidade:morreram trinta mulherese vinte e sete crianças."Agora a telefoniainforma todas as noites,dias, meses, anos ... noites:"Morreram trinta mulherese vinte e sete crianças."... E lá num canto do largo,coberto de noite e raiva,Zé Gaio abriu a navalha.Zé Gaio espetou a navalhano grosso tronco da faia.Lá num canto do largo,a faia toda dobrada- será do peso da noiteou do vento da desgraçaque sai da telefonia?Manuel da FonsecaPoemas completosForja (1958)
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