sábado, 2 de março de 2024

Mãe

02.03.2004, terça-feira.
Seria igual a tantas outras?
Diferente, tão diferente.
- Vou ali a casa, volto já.
- Não tenhas pressa. Não vale a pena.

Como sempre, tinhas a razão do teu lado.
E ficou tanto por dizer.
E por fazer.
Vinte anos passaram.
Continua a parecer que foi ontem.
E todos os dias o diálogo acontece,
sem mágoas. O amor permanece.

TUDO É FOI

Fecho os olhos por instantes.
Abro os olhos novamente.
Neste abrir e fechar de olhos
já todo o mundo é diferente.

Já outro ar me rodeia;
outros lábios o respiram;
outros aléns se tingiram
de outro Sol que os incendeia.

Outras árvores se floriram;
outro vento as despenteia;
outras ondas invadiram
outros recantos de areia.

Momento, tempo esgotado,
fluidez sem transparência.
Presença, espectro da ausência,
cadáver desenterrado.

Combustão perene e fria.
Corpo que a arder arrefece.
Incandescência sombria.
Tudo é foi. Nada acontece.

António Gedeão
Poesias completas (1956-1967)
Portugália (1975)

1 comentário:

Anónimo disse...

♥️🌹