segunda-feira, 22 de março de 2021

Tempo

Já não lembro com precisão quando foi e porque foi, mas tive o primeiro relógio bastante novo. Talvez doze ou treze anos, o que, na época, era um grande privilégio. Foi oferta do meu pai, por certo para premiar algum feito escolar que devo ter realizado e mereceu a recompensa.

Nunca mais deixei de usar relógio, primeiro no braço esquerdo e aí por volta dos 18 anos, no braço direito, por me parecer mais fácil de consultar. Já passaram pelos meus braços muitos exemplares, desde os que exigiam corda manual, diária, aos que o balanço do braço mantinha "vivos", aos mais recentes, sofisticados e impiedosamente certos, desde que a pilha estivesse em condições, situação que se resolvia com uma simples ida ao relojoeiro, para substituir.

Esse instrumento arcaico chamado relógio foi substituído no passado dia 19, Dia do Pai ou dos Pais, como parece ser chique dizer agora. Os meus netos ofereceram-me um monitor de actividade física. Não é um relógio, mas dá as horas de todo o mundo; tem calendário perpétuo, que sabe quais são os meses de 30 e os de 31 e não tem dúvidas sobre quando o Fevereiro tem 29 dias; conta todos os passos que dou e transforma-os em distância, sem necessidade de agrimensor; mostra as pulsações e diz-me quantas horas dormi e destas, quantas foram de sono profundo; analisa o stress diário e ainda deve fazer mais coisas, que irei descobrindo. De tudo faz estatísticas e elabora gráficos. Se eu pretender, até me avisa quando o telefone toca ... sem o Matos Maia, claro, que esse era do antigamente!

E lembrar-me eu que o meu avô usava um "cebola" no bolso do colete, preso num botão do mesmo por uma corrente de "prata" e que o polegar e o indicador muito labutavam naquela carrapeta para o manter "vivo".

2 comentários:

casulo disse...

Avô muito moderno, é o que é :)

Artur Henrique Ribeiro Gonçalves disse...

Recebi o meu primeiro relógio de pulso por volta dos 9/10 anos. Foi o meu avô quem mo deu quando fiz o exame da quarta classe. Grande feito para a altura em que 1/4 da população era analfabeta. Perdi-o alguns anos mais tarde em Troia (Setúbal). Depois disso voltei a ter outros, com corda, a pilhas ou cinético, que fui perdendo ou substituindo por uma razão ou por outra. Curiosamente, sempre o usei no braço direito. Alguns dos meus amigos já me perguntaram se o faço por snobismo, por julgar que sou diferente dos outros, mas na realidade, excentricidades à parte, faço-o porque, como acontece contigo, me dá mais jeito consultá-lo e ver as horas. Manias! Também já tive um contador de passos, podómetro se chamava na altura, mas desisti de o usar. Era dado a manhas que nunca entendi. Depois de dar as voltas que me garantiriam os 10 000 passos diários, só acusava uns 5000 ou coisa nenhuma. Em contrapartida, dei comigo a ter percorrido uns 4000 passos enquanto estava a dormir. Resolvi então meter esse monitor de atividade física na gaveta, onde repousa até hoje.