02.03.2004, terça-feira.
Seria igual a tantas outras?
Diferente, tão diferente.
- Vou ali a casa, volto já.
- Não tenhas pressa. Não vale a pena.
Como sempre, tinhas a razão do teu lado.
E ficou tanto por dizer.
E por fazer.
Vinte anos passaram.
Continua a parecer que foi ontem.
E todos os dias o diálogo acontece,
sem mágoas. O amor permanece.
TUDO É FOIFecho os olhos por instantes.Abro os olhos novamente.Neste abrir e fechar de olhosjá todo o mundo é diferente.Já outro ar me rodeia;outros lábios o respiram;outros aléns se tingiramde outro Sol que os incendeia.Outras árvores se floriram;outro vento as despenteia;outras ondas invadiramoutros recantos de areia.Momento, tempo esgotado,fluidez sem transparência.Presença, espectro da ausência,cadáver desenterrado.Combustão perene e fria.Corpo que a arder arrefece.Incandescência sombria.Tudo é foi. Nada acontece.António GedeãoPoesias completas (1956-1967)Portugália (1975)
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