quarta-feira, 17 de junho de 2020

Poesia racismo

Uma cabeça contra umas pedras bicudas

O meu patrão era taxeiro 
e eu moleque do seu bebé
chamado Constantino o tal bebé
e o patrão Machado
e ela D. Maria
ele era ateu
e muito vinhateiro
e ainda boxeur com os criados
um dos adversários sou eu
com o vencimento de vinte e cinco
com tanto trabalho que tinha
brincar com o menino branco
e ainda com o patrão em socos
socos só dele
eu sem me defender
sangue pelo nariz
sapatos nas costelas
eu caindo
assim nem vencia o tal Machado
este sou eu?
perguntava-me eu próprio
que recebo socos de um ser humano?
não devo ser, 
quando eu caía
este patrão tinha festa
lá no coração
pois era campião
dum K.O. falso
com este patrão
muito sofri
na avenida J. Serrão
em 1949
tanto levei
e tanto sangue saía
e criou-me um câncro
nas minhas unhas
veneno na língua
das dores dele
vivi doente
sem remédio, sofri
pois preto não precisa de remédio
dizia o senhor
autor do boxe.

2 comentários:

Anónimo disse...

Tema oportuno.

Anónimo disse...

Tema oportuno.