quarta-feira, 10 de junho de 2020

Tempos

A idade, diz-se, faz-nos rezingões, rouba-nos a paciência, tira-nos o filtro, dá-nos certezas onde antes hesitávamos, leva-nos na senda do "nunca me engano e raramente tenho dúvidas" de triste memória.
Porém, quem vai estando atento ao que se diz e escreve por aí, chega à conclusão que a pandemia fez luz numa grande parte das mentes que grassam nos jornais, nas televisões, nas redes sociais, e formou "especialistas" em catadupa, talvez resultado de um trabalho profundo e de um estudo pormenorizado efectuados durante o confinamento.
E por aqui nos vemos a ouvir os ditos "especialistas" a perorarem sobre o vírus, a crise na TAP, o orçamento suplementar, o valor do PIB, a percentagem da dívida, o aumento do desemprego, os desafios que se colocam às empresas, a solução para eles, o futuro do teletrabalho, a melena do Trump. as baboseiras do Bolsonaro, o tempo que já fez e o que irá fazer, o buraco do ozono e as alterações climáticas, o TGV e a bitola europeia, os melros que cantam e os que grunhem, os passarinhos e os passarões, os loucos e os deprimidos, o fora de jogo e o penalty, a solução da Suécia e a decisão da Nova Zelândia, a fome e a fartura, o gasóleo e os eléctricos, o Camões e o Bocage, a ponte e os santos populares, o arraial e as sardinhas, a polícia e o ladrão.
E eu, pobre mortal, escondo-me no quadradinho da minha ignorância e fico quase deprimido. 
Estarei velho? Vou perguntar aos "achistas" e eles, provavelmente, dirão que velho é um vocábulo fora de moda, que já ninguém usa, mas idoso, é certo e sabido que sim. Acham eles!

1 comentário:

Anónimo disse...

Velho?... não, nada disso. Usado. Mas bem conservado. E com um caminho longo a percorrer. Há muito para ler e muito para escrever. Para deleite dos amigos.