segunda-feira, 25 de abril de 2022

Liberdade

Para mim e para muitas outras pessoas, hoje é dia de festejar o aniversário e de lembrar sonhos que estão por cumprir, coisas que não se fizeram, tempos que já foram. 

Com esta idade, os sonhos já só acontecem a dormir. Os outros, se não se concretizaram, talvez já não aconteçam. Nesta noite, dei por mim a convidar a Liberdade para comigo almoçar, e, assim, comemorarmos o aniversário em conjunto. Apesar de ela ser bastante mais nova do que eu, tinha alguma esperança de que aceitasse e, até, ficasse satisfeita com a lembrança do idoso. 

- Nem pensar. Já me conheces há tempo suficiente para saberes que não quero nem devo privilegiar ninguém. Aliás, conheces bem a minha história e sabes que foi para acabar com os privilégios que vim ao mundo há 48 anos, trazida com orgulho por um punhado de portugueses corajosos.

- E achas que conseguiste? 

- Resposta difícil, tais são as incertezas e os escolhos que procuro contornar. Mas já muita coisa se alterou e o jardim tem um aspecto e uma vida completamente diferentes.

Compreendi as reticências da minha amiga, ou melhor, reconheci que a não devia ter convidado, uma vez que, apesar da nossa ligação fraternal, ela tem muito mais que fazer do que almoçar com um qualquer egoísta que a pretende só para si. Talvez até nem tenha tempo para almoçar, tal o trabalho imenso que a mantém atarefada e com uma preocupação constante de tentar evitar aqueles que, à sombra da sua benevolência, não hesitarão em matá-la à primeira oportunidade. Não lhe gabo a sorte e estarei por aqui para lhe dar a ajuda de que for capaz, considerando que as minhas limitações já vão sendo significativas.

Acordei! E veio-me à memória Sophia:

Esta é a madrugada que eu esperava 
O dia inicial inteiro e limpo 
Onde emergimos da noite e do silêncio 
E juntos habitamos a substância do tempo.
O nome das coisas
Sophia de Mello Breyer Andresen
Caminho (2004)

Viva o 25 de Abril, SEMPRE!

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