sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Evolução


A porta, também envidraçada, era, porém, estreita e dava acesso à oficina, também ela exígua. Estava sempre aberta e proporcionava uma vista "larga" para o conteúdo. O banco de trabalho era um pequeno tripé de madeira, onde o senhor D. se sentava, pressuroso, a cuidar das encomendas. Usava um bigode grosso, já bem mesclado de branco. Era bonacheirão e bem nutrido ou, como se diria hoje, com algumas adiposidades.

Com excepção dos breves instantes que demorava a deslocação à tasca, onde saciava a sede com um copinho tinto, dos pequenos, já se vê, estava sempre lá.

Ele e a sovela, a forma com três medidas, a cera, a linha, a faca sempre afiada. Fossem gáspeas ou meias-solas, protectores de biqueira ou brochas para proteger as solas, numa carreirinha toda à volta, tudo ele fazia ou consertava.

O senhor D. era sapateiro. Com a evolução que determina ser preciso mudar alguma coisa ainda que tudo fique na mesma, hoje seria reparador de calçado ou, com estudos, técnico superior de reparação de calcantes.

1 comentário:

Anónimo disse...

brochas ou brôchas? ah! o acordo...