domingo, 28 de maio de 2023

Impertinências

"Já não se pode ser padre numa freguesia destas."

Talvez este aforismo, velho e relho, seja adequado ao que, diariamente, nos passa pelos olhos e pelos ouvidos. Paulatinamente, parece haver muita gente a tentar demonstrar que somos todos parvos e necessitamos de "bengalas" explicativas para que entendamos o que nos é oferecido. Pretendem ser a voz entendida, que colmata a nossa (in)capacidade de entendimento e à qual devemos ficar eternamente gratos, por se dignarem partilhar connosco a sabedoria apenas ao alcance de alguns.

Cada vez mais parece que o importante é o supérfluo, o mesquinho, a caricatura, o diz que disse e a minhoquice. O pior é que quem tem responsabilidades, coloca-se muitas vezes a jeito e contribui para que estes iluminados nos massacrem a pinha. 

- O Ministro Galamba telefonou-lhe ou não?

- O governo preocupa-se com o bem-estar dos portugueses, bla-bla-bla ...

- Mas é ou não verdade que o Ministro Galamba lhe telefonou?

- A economia tem vindo a crescer, tudo indica que o futuro vai ser melhor, bla-bla-bla ...

- Mas recebeu ou não uma chamada do Ministro Galamba?

- ...

- O Ministro telefonou-lhe ou não? Porque não responde?

E a saga continuou até que o Secretário de Estado pediu desculpa e se foi. A menina repórter completou o seu brilhante desempenho repetindo que o governante, apesar de várias vezes questionado, não tinha respondido à pergunta se tinha, ou não, recebido um telefonema do Ministro Galamba.

O país permanece, assim, na ignorância, em brasa, com o coração a palpitar e os nervos em franja, por uma pergunta tão importante para o futuro de todos nós não ter sido respondida. A ausência daquela resposta traz um prejuízo incalculável à vida de cada português, só comparável ao aumento dos grelos de nabo na praça das Caldas da Rainha.

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