- Ó Jeirinhas, tu és capaz de ir a casa e meter os bois ao carro?
- Ora essa, patrão! Então não havia de ser? Pois já se vê que sou!
- Então vai a casa num pulo, e traz o carro para levarmos as vides. Mas não te demores, que é quase noite.
O moço partiu a correr, muito contente com aquela prova de confiança que lhe dava seu amo. Chegou a casa, e foi um instante enquanto apôs os bois ao carro. Depois de tudo pronto, começou a chamá-los de aguilhada no ar; mas, com grande admiração sua, os bois não andavam! Passou a chamá-los pelos seus nomes, a ameaçá-los com a aguilhada, mas, qual história! - os animais não levantavam os canelos do chão. Entrou de praguejá-los em altos berros, de picá-los com o ferrão, e eles torciam-se, abanavam a cabeça, mas lá andar para a frente é que não havia meio.
O Jeirinhas, muito descoroçoado, começou a dizer mal da sua vida:
- Mas que teima será esta dos bois, que não querem andar? E o patrão que logo me recomendou que viesse num pulo! Como há-de ser isto agora?
De repente, teve uma inspiração:
- Já sei! Isto não é senão coisa de bruxedo!
Levantou-se de um salto, deitou a fralda da camisa para fora, e foi-se à cabeça dos bois, zurra-que-zurra, zurra-caturra, a esfregá-la com quanta força tinha, porque ouvira dizer que era aquilo remédio infalível para o mau olhado ...
Depois daquele trabalho todo, tornou a chamar os bois e a puxar por eles: mas nada! Se teimosos estavam antes, mais teimosos ficaram depois! O rapaz desanimou então de todo, e começou a chorar:
- Agora o patrão, se calhar, há-de dizer que eu dei cabo dos bois! Valha-me Deus Nosso Senhor!
Nisto, pôs-se a olhar muito sério para os bois, e disse:
- Espera lá ... Este boi parece que puxava do outro lado ... E se eu trocasse os bois? ...
Dito e feito. Tirou os bois: mudou o da direita para a esquerda e o da esquerda para a direita, e tornou a apô-los ao carro. Os animais, assim que se viram nos lugares a que estavam acostumados, ó pernas para que vos quero! meteram por ali fora que foi um regalo!
O Jeirinhas compreendeu então que ele é que tinha embruxado os bois.
1 comentário:
Adorei! Comoveste-me! Parece, até, que ouvi o teu entusiasmo na entoação que davas nos monólogos do Jeirinhas! Nesse tempo, já eras GRANDE! Bj
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