domingo, 25 de outubro de 2020

Técnica de Vendas

O título deste post era a designação de uma disciplina do meu ensino secundário, já lá vão bem mais de 50 anos. Nela se aprendiam conceitos de atendimento e de relações com os clientes, que deviam ser pautadas por uma linguagem de verdade, lisura de processos e tendo sempre em vista a máxima suprema: a razão de existência de qualquer empresa e, já agora, de qualquer serviço, é a satisfação dos seus clientes, sem peias nem jogos escondidos, e sempre com clareza de procedimentos e intenções.

- Recebi esta carta e não percebo bem isto. Pode ajudar-me?

A cena passou-se numa agência do banco onde, na altura, exercia funções. A senhora, viúva, já com alguma idade, era cliente, recebendo a reduzida reforma através de crédito na sua conta. Mantinha uma excelente relação com todos, por ser vizinha de um dos que lá trabalhavam e a quem conhecia desde menino, como não se cansava de referir. Era extrovertida, gostava de dar novidades - Fulano morreu, Sicrana separou-se - sem complexos nem vergonhas.

- Isto é a informação de que não pagou o cartão de crédito e que tem 10 dias para o fazer, sob pena de mandarem a dívida para cobrança coerciva, via Tribunal.

- Eu não tenho nada disso! Só tenho o vosso cartão, para levantar dinheiro na máquina ou pagar na loja, mas raramente o utilizo. Gosto mais de vir aqui visitá-los.

- ???

A minha cara deve ter sido elucidativa e reavivou-lhe a memória.

- Espera lá! Há talvez dois meses, no supermercado, dois senhores muito simpáticos ofereceram-me um cartão e disseram-me que podia gastar até 500 Euros nas lojas. Fiquei toda contente e, logo ali, comprei uma panela de pressão e um ferro eléctrico, que me deram um jeitão. Depois, comprei umas roupinhas para o Inverno. Também substituí o fogão a gás por um maior e mais moderno. Não cheguei aos 500 Euros, mas faltou pouco! Não me diga que agora tenho de pagar?

- Claro, respondi.

- Mas eles disseram que não tinha de pagar nada ... As lágrimas soltaram-se e a face corou. 

O marketing agressivo produz muitas situações destas. E agora nem rosto tem. Surge, inopinadamente, pelo telefone ou pelas redes ditas sociais, sempre com a "cenoura" ao alcance da mão, sem qualquer dificuldade e só para si, que é uma pessoa especial.

A última que soube foi a de um colchão oferecido, por ter sido "cliente eleito" ... apenas tinha de pagar um seguro de 35 Euros mensais, durante 36 meses. Coisa pouca, para um produto de excelência! E a venda concretizou-se e deve ter somado aos objectivos e às comissões do aldrabão que a promoveu. 

1 comentário:

Anónimo disse...

"Remando contra a maré".