sábado, 24 de julho de 2021

Palavras bonitas

CATILINA

Eu sou o solitário e nunca minto.
Rasguei toda a vaidade tira a tira
E caminho sem medo e sem mentira
à luz crepuscular do meu instinto

De tudo desligado, livre sinto
Cada coisa vibrar como uma lira,
Eu - coisa sem nome em que respira
Toda a inquietação dum deus extinto.

Sou a seta lançada em pleno espaço
E tenho de cumprir o meu impulso,
Sou aquele que venho e logo passo.

E o coração batendo no meu pulso
Despedaçou a forma do meu braço
Pr'além do nó de angústia mais convulso.

Dia do Mar
Sophia de Mello Breyner Andresen
Caminho (2005)

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