Antes de chegarem ao trabalho já tinham passado pela tasca e bebido, de um trago, um copinho de aguardente, ou melhor, de bagaço, como toda a gente dizia.
- Bom dia, já mataste o bicho?
Era o cumprimento para os que aguardavam a chegada do caseiro, a quem cabia determinar o trabalho do dia. Enxada às costas, botas gastas, camisa de cor indefinida pela sujidade, boné enfiado na cabeça, atilho de cordão a segurar as calças, aguardavam a escolha, sempre com a esperança de não serem rejeitados.
Esperava-os um dia a cavar vinha, a semear trigo ou a ceifá-lo, a plantar bacelo, a sachar milho, e tantas outras tarefas agrícolas que caíram em desuso e foram (ainda bem) substituídas pela maquinaria.
A jorna, parca, era paga no final do dia de sábado e correspondia, apenas, aos dias de trabalho ou a parte deles, se o tempo obrigasse o rancho a levantar. Podiam ganhar um, dois ou três quartéis. Se a chuva só obrigasse a acabar na última parte do dia, o pagamento era integral. Daí que, muitas vezes, sob a chuva inclemente, ainda se ouvia:
- Quem aguentou meio dia, aguenta o resto!
E o caseiro lá condescendia.
Podar e empar eram trabalhos especializados, feitos por aqueles que tinham aprendido e podiam exigir uma melhor paga, por serem poucos e os trabalhos terem um tempo próprio e urgente para serem realizados. A poda exigia conhecer bem as características da cepa ou da árvore, e saber quais os ramos a cortar, de modo a não comprometer a produção futura. A empa, nas vinhas, exigia ainda mais habilidade e aquela voltinha redonda obrigava a cuidado extremo, para não se partir. Tinha de ser regada com bom vinho e não com a a água-pé do rancho, e o dia, para estes especialistas, terminava antes do Sol se pôr, ainda a tempo de chegarem à tasca e, com o mesmo "comprimido" da manhã, confirmarem que o bicho estava morto e bem morto.
1 comentário:
... É, como todos eles te admiravam!
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