segunda-feira, 20 de abril de 2020

Liberdade e Poesia

No final desta semana comemoram-se os 46 anos da revolução do 25 de Abril, que trouxe a todos, entre muitas outras coisas, a liberdade de expressão sem censuras e sem peias, mesmo para dizer asneiras e aldrabices. 
E porque, como dizia Sophia, "a poesia está na rua", esta semana será por aqui dedicada a uma colectânea de sonetos organizada por José Fanha e José Jorge Letria, e publicada pela já desaparecida editora Terramar, em 2002.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam mágoas na lembrança,
e do bem - se algum houve - as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e enfim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia, 
outra mudança faz de mor espanto:
que não se muda já como soía.

Luís Vaz de Camões

1 comentário:

Anónimo disse...

Começando assim, com fasquia tão alta, fico à espera do seguinte.