quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Servos

Telefonava sempre a dizer quando vinha, a que horas vinha e ao que vinha. Era uma cliente antiga, solteira, obesa, já entrada na idade, e com óculos "fundo de garrafa". Tinha propriedades agrícolas na região, que explorava directamente e uma pequena parte que arrendava a pequenos produtores. Fazia questão de se afirmar agricultora e os olhos riam-se por debaixo dos óculos sempre que alguém manifestava apreço pela actividade.

Chegava de táxi, entrava e dirigia-se de imediato ao gabinete, sabendo que a "sala" lhe estava reservada. Era pontualíssima. O motorista acompanhava-a até à entrada, depois de lhe abrir a porta, de seguida ia arrumar o carro e voltava, ficando no balcão até receber o recado de algum de nós, transmitindo que a senhora estava despachada e podia ir buscar a viatura.

Vinha ao banco, normalmente, de quinze em quinze dias. Fazia depósitos, controlava as contas a prazo e os movimentos à ordem, levantava dinheiro quando necessitava e sempre a quantia que tinha referido na véspera. Tratava toda a gente por "tu", com excepção do gerente.

O cheque para levantar já vinha preenchido, mas a assinatura era feita no momento.

- Diz lá ao caixa que quero notas pequenas, de 50 e de 100, e um pacote de moedas de 5$00. E olha que não quero notas novas. É para pagar aos servos ...

1 comentário:

casulo disse...

o problema é que continuam a deixar descendência...