Aquela "coisa" que mantinha a ordem em todo o país e que, em boa hora, sucumbiu em 25 de Abril de 1974, cuidava de todo o mundo com um desvelo e uma dedicação "louvável", controlando o que se dizia, escrevia ou lia, pretendendo determinar comportamentos e bons costumes, fomentando a denúncia e o afastamento, ostracizando ou perseguindo quem ousasse agir ou pensar de forma diferente.
No ano em que nasci, a Direcção dos Serviços de Censura "despachava" o livro de contos de José Cardoso Pires intitulado Histórias de Amor desta forma "brilhante e eloquente":
Imoral. Contos de misérias sociais e em que o aspecto sexual se revela indecorosamente. De proibir.
O Subdirectora) José da Silva DiasCap.
A seguir tenho a honra de transcrever a V. Exª. parte da escuta feita pela Rádio Costeira ao noticiário da "Radio Brazaville", na sua emissão em língua portuguêsa:
"Em Lisboa a polícia apreendeu todos os exemplares do último livro de Miguel Torga "O Tomo oito do seu diário" publicado há dias. Supõe-se que o motivo de tal atitude são as depreciações dadas pelo autor sobre alguns episódios da vida política portuguesa. Miguel Torga é um dos mais brilhantes escritores portugueses contemporâneos e a sociedade dos homens de letras portuguesas apresentou a candidatura do escritor ao Prémio Nobel de Literatura Portuguesa.Foi levantada a apreensão que a polícia fêz em todas as Livrarias de Lisboa da última obra do célebre escritor português Miguel Torga. O próprio autor do livro tinha sido detido pela Polícia na véspera da confiscação do livro mas posto em liberdade pouco depois. Miguel Torga é candidato ao Prémio Nobel da Literatura de 1960. A sua candidatura foi apresentada pela Sociedade Portuguesa dos homens de letras. Julga-se que a atitude que a Polícia tomou foi devida a algumas apreciações contidas no livro sobre certos episódios da vida política portuguesa."
Muitos outros exemplos se poderiam dar do país que tínhamos e que, parece. alguns por aí querem fazer regressar.
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