ANJO INCOLOR
Abri o livro na alturaem que o Anjo me sorriae em vez de mel prometiaamor, descanso e ternura.Falava como que a sós.E as palavras flutuavam.Eram pombas que poisavamno fio da sua voz.Escutei-o de olhos no chãocomo se fosse o culpado,como se o mundo enredadoestivesse na minha mão.Abri o peito e mostrei-lhea areia, a pedra britada,os planos da grande estradaonde o Anjo se ajoelhe.Ele fitou-me, de frente,de olhos frios como brasas.E abrindo e fechando as asasrasgou o céu, lentamente.Sobre a folha imaculadapor longo tempo nevou.Sentei-me à beira da estradamas o Anjo não voltou.Poesias Completas (1956-1967)António GedeãoPortugália (1975)
1 comentário:
Ainda há tempo. Colorido ou incolor, virá numa qualquer Primavera.
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