quinta-feira, 8 de abril de 2021

Miséria

A morada era um carro, velho, coberto por uns panos grandes, seguros por elásticos, que se encontrava estacionado junto a um, também velho, pinheiro manso.

Vieram as obras de requalificação das ruas e aquela foi uma das contempladas, decerto por fazer parte do plano previsto, reforçado agora por ter passado a ser um dos principais acessos ao enorme restaurante Mcdonalds, que por ali se instalou recentemente.

Abandonou o poiso e acomodou-se a algumas centenas de metros, agora numa carrinha grande, mais nova e mais discreta. Mesmo assim,  havia um pano por cima para assegurar, julgo, algum conforto, e fazer de cortina ao "quarto", protegendo as intimidades. Aqui, ainda mantinha a vista para o restaurante e, de lá, também era visível.

Partiu de novo, obrigado ou convidado a sair. Não o descortinei durante alguns dias e pensei que alguém lhe tinha resolvido o problema e arranjado um espaço para habitar. Surgiu-me hoje, de novo, num outro local, sem vista para o restaurante mas com porta para a rua e para o trânsito.

A carrinha está bem estacionada, não podendo ser legalmente removida nem multada. O "inquilino" por lá vive, sem quaisquer condições de salubridade e higiene. 

Será teimosia do próprio ou toda a gente assobia para o lado, como eu?

Sem comentários: