O meu amigo ADS "obrigou-me" a reler o livro meu homónimo, escrito por Virginia Woolf em 1928 e trazido até nós em variadíssimas edições, a última das quais é a que hoje terminei. Tanto quanto me lembro e como é referido no prefácio, esta edição traz algumas diferenças em relação às anteriores mas, no fundo, a mesma essência.
O romance pretende ser uma biografia de Orlando, um ser humano cheio de "eus", os mais diversos, de tal modo que nasce masculino, cresce rapaz, e, já bem adulto, torna-se uma mulher, com uma imaginação imensa, que a leva a percorrer o mundo, no tempo e no espaço, sem sair do conforto do seu nobre casarão.
Actual, sem qualquer dúvida.
"(...) - Mas, então, o quê? Quem? - perguntou. - Trinta e seis anos; num carro; mulher. Certo, mas também um milhão de outras coisas. Serei uma snobe? As condecorações, o brasão, os meus antepassados; se me orgulho deles? Sim! Ambiciosa, voluptuosa, depravada; será que sou?
(Aqui entrou outro eu.)
- Quero lá saber se sou ou não. E serei de confiança? Acho que sim. Generosa? Ah, mas isso não conta.
(Já era outro eu.)
- Passar a manhã na cama, nos meus lençóis da melhor qualidade, a ouvir os pombos; faqueiros de prata; vinho; criadas; criados. Serei mimada? Talvez. Demasiado a troco de nada. Daí os meus livros.
(E saíram-lhe cinquenta títulos de recorte clássico, que julgamos serem aquelas suas primeiras obras românticas, que rasgou.)
- Oco, fala-barato, romântico. Mas - (e entrou outro eu) - uma nulidade, um desajeitado. Mais desastrado seria impossível. E ... e ...
(Aqui, hesitou, em busca da palavra certa, e, se sugerirmos <<amor>>, é possível que nos estejamos a enganar, mas o certo é que ela riu e corou e depois exclamou:)
- Um sapo incrustado de esmeraldas! Henrique, o arquiduque! O tecto cheio de varejeiras!
(E entrou outro eu.) (...)"
Sem comentários:
Enviar um comentário