segunda-feira, 17 de abril de 2023

Livros (lidos ou em vias disso)

A leitura da biografia de Natália Correia - O dever de deslumbrar, de Filipa Martins - já leva dois terços e não está ainda concluída por ser interrompida por outros livros que se alcandoram e insinuam, fazendo lembrar tempos idos, quando a mesa de cabeceira tinha dois ou três a serem "consumidos" em simultâneo.

Ontem, fazendo mais uma pausa na vida de Natália, comecei um livro de um autor brasileiro, que não conhecia. O livro é designado, na tira da capa, como o "romance de estreia do escritor-prodígio da literatura brasileira contemporânea", o que, por si só, desperta a curiosidade e a vontade de começar.

Ainda vai no princípio mas já deu para notar que o malfadado Acordo Ortográfico só por aqui é obrigatório e que, como sempre pensei, a riqueza da língua está nas suas variantes e não na formatação obrigatória que alguns iluminados quiseram. E é tão saboroso encontrar palavras novas e ir à procura do seu significado. O livro até traz um glosário, que serve de marcador e auxilia na compreensão.

"(...) Ryan Giggs recebeu outra bola enfiada nas costas do lateral adversário, e com a perna esquerda acertou mais um cruzamento na cabeça de Chicharito Hernández.

- Tomar no cu, neguim. Só faz gol assim! - Douglas defendia as cores do Barcelona, e tava puto.

 - Chora, não, maluco. Vira logo essa porra aí e vamo pró jogo.

Já tava pra terminar a partida. Com esse gol, o terceiro do atacante mexicano, o placar marcava cinco pro Manchester United, time de Murilo, quatro pro Braça. Biel marolava com os dois enquanto apertava um baseado. Os amigos já tavam pra lá de Bagdá. Não que apostar uma dose de vodca a cada gol sofrido fosse novidade na casa, muito pelo contrário, já era um clássico entre eles. Mas naquela noite a porteira tava aberta. Pra se ter uma ideia, na última partida Murilo derrotou Biel por oito a seis, quer dizer, já entrou embrasado pro duelo com Douglas, seu maior rival no Bomba Patch. Isso sem contar o primeiro jogo, que terminou com o placard magro de um a um e foi pros penâltis. O que é sempre pior, porque obriga o jogador a beber várias doses, alternando com o adversário.

Na hora que sofreu o quinto gol, Douglas achou melhor deixar por isso mesmo. Se fossem pros penâltis do jeito que tavam, o bagulho ia ficar esquisito. O problema é que Murilo não consegue ganhar e ficar na moral. Ele tem que gastar os outros até o limite. E o pior de tudo, o que deixa Douglas mais bolado: só ganha com a mesma jogada.

Já nos acréscimos, Murilo gastava a onda quando Douglas, com sangue no olho, meteu uma bola na direita pro Messi. O craque argentino invadiu a área na diagonal, limpou dois adversários e bateu cruzado. O goleiro do United nem saiu na foto. Cinco a cinco no final do segundo tempo. (...)" 

Via Ápia
Geovani Martins
Companhia das Letras (2023)

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