Era uma vez um lápis rombo, que não se deixava afiar. Por isso, escrevia grosso tal como se fosse um carvão enorme, daqueles usados pelos grandes pintores nos seus retratos.
Por mais que lhe dissessem não ser essa a forma correcta de estar, que a sociedade tinha regras, que a aparência contava (e muito), o lápis mantinha-se no seu cantinho, obedecendo a qualquer um que o quisesse utilizar mas, afiadeira, jamais.
O tempo foi passando. A pouco e pouco, o lápis teimoso foi sendo preterido, usado apenas para pequenos apontamentos urgentes, ficando o trabalho mais importante para os outros que se deixavam afiar e se mantinham bonitos, com o bico bem arranjado e a cobertura bem redondinha.
E mais tempo passou. A inutilidade do lápis teimoso acentuou-se e até para as pequenas garatujas deixou de ser usado.
A gaveta da secretária era agora o seu poiso natural, sem que alguém o incomodasse ou utilizasse.
Os seus companheiros, adquiridos na mesma altura, estavam agora reduzidos a pequenos pauzinhos e já só eram utilizados por mãos pequenas. Pouco a pouco, foram sendo substituídos por novos lápis, de cores variadas e de dimensões normais, que iniciavam a sua vida de trabalho e iam sendo afiados ( e diminuídos) à medida das necessidades.
O teimoso permanecia, quase novo, no recanto da gaveta, sem qualquer utilidade, mas sempre mantendo a irredutível teimosia.
Um dia, alguém mais observador, reparou que na gaveta todos os lápis estavam bem afiados e reduzidos no tamanho, excepto um - o teimoso. Indagou o que se passava e recebeu a informação, já descrita, de que se tratava de teimosia do lápis, que não admitia ser afiado. O informador acrescentou que, apenas por mero acaso, o lápis não tinha sido mandado para o lixo.
3 comentários:
Coitado do lápis! Nem por ser teimoso teve direito a pedestal.
Os meus lápis ficaram muito sensibilizados pelo privilégio de se mostrarem num espaço tão nobre. Juntinhos contra a lixa…
:) :)
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