quarta-feira, 9 de março de 2022

Cegonha

Há quarenta e quatro anos, a chegada dos bébés era ainda, em muitos casos, feita através do bico da cegonha que os trazia de Paris, sem passaporte, carregados do bulício francês e ávidos da serenidade da paz e sossego do nosso país, seguro, belo, e sem grandes oscilações climáticas.

O transporte "cegonhal" estava em decadência e viria a desaparecer completamente daí a pouco tempo, acompanhando a abertura que se foi, finalmente, dando. A cegonha reciclou-se e passou a efectuar outras tarefas, como fazer ninhos no cimo dos postes de electricidade ou vaguear pelos campos, tarefas para as quais estava mais talhada e a faziam mais feliz.

A minha bébé foi produzida em casa e nasceu, com a mãe a dormir e com o auxílio do bisturi do cirurgião e de mais alguns intervenientes de bata branca e estetoscópio ao pescoço. Um deles, que por acaso foi uma ela, veio cá fora e deu a notícia:

- É uma menina, muito bonita, e está tudo bem.

Toda a gente sabe que os bebés são sempre bonitos e, por isso, essa não era a novidade. Notícia era ser uma menina, depois de nove meses a fazer o teste da agulha, a ouvir dizer que o formato da barriga indiciava ser um menino e "olha que eu raramente me engano". E a cara da mãe diz o mesmo. Eram as ecografias da época. À cautela, havia em carteira um nome para cada situação.

Como é diferente hoje. Sabe-se se é menino ou menina ainda a barriga mal evidencia a gestação e há tempo de sobra para escolher o nome e divulgar o nascimento, com o ser nascido já devidamente identificado e não um qualquer cidadão sem nome.

A minha menina aí está, feliz, cumprindo a quarta capicua da sua vida!

1 comentário:

casulo disse...

ahahah e esperaram 44 anos para me dizer que pensavam que ia ser menino?! adorei :) justifica a ausência de vocação para princesa Disney. Agora tudo faz sentido!