Ainda não havia chegado aos 23 anos e estava integrado numa equipa constituída por gente mais velha, cheia de conhecimentos, experiência e vontade de fazer muito, e bem. A ânsia de aprender era igual à de ensinar e as duas juntavam-se sem olhar a horas de saída ou refeição. A busca sistemática da mudança, do melhor para todos, dos novos horizontes abertos no ano anterior, era constante.
Naquela terça-feira, o trabalho desenrolava-se com a normalidade possível, sentindo-se no ar que poderia estar para acontecer alguma coisa a qualquer momento. Os boatos eram constantes e, como toda a gente que foi à tropa sabe, o boato fere como uma lâmina.
O gabinete ministerial estava instalado no primeiro andar de uma das torres da Praça do Comércio e tinha uma vista linda para o Tejo, com Cacilhas e os estaleiros da Lisnave lá ao fundo. Da primeira vez, ninguém reagiu ao barulho do helicóptero. Daí a pouco, o mesmo ou outro sobrevoou a praça a baixa altitude e chamou definitivamente a atenção. Os olhos deixaram o Tejo e fixaram-se no ar. A concentração saiu da secretária e colocou-se toda no céu, num outro helicóptero que se aproximava e em dois caças que passaram a grande velocidade, rumo ao norte.
A calma era aparente. Havia gente com experiências fortes e bem vividas em situações de guerra que, apesar disso, não conseguia disfarçar a ansiedade.
De repente, a porta abriu-se.
- O Spínola 'tá maluco! Eu nem uma pistola tenho ...
A contenda não se concretizou e o diálogo impôs a paz, felizmente. Os tiros nunca resolveram e, ainda hoje, assim acontece.
Há 47 anos, foi o diálogo corajoso entre os comandantes das duas forças, com ordens para a confrontação, que resolveu o problema e evitou a guerra. Assim fosse possível hoje, na Ucrânia.
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