segunda-feira, 28 de março de 2022

Pintassilgos

Desde muito miúdo que me habituei a gostar de pintassilgos. O seu modo ondulado de voar, o seu chilreio delicioso, as suas cores tão bonitas, fazem deles os meus pássaros de eleição. Mesmo no tempo das "caçadas" aos pássaros, o pintassilgo era sagrado. Os melros, os tordos, os tentilhões, os pardais-telhado, as felosas brancas, os estorninhos, não ficavam descansados perante um "bando" de miúdos armados com uma pressão de ar ou com meia dúzia de fisgas. O pintassilgo podia estar descansado. Ninguém lhe fazia mal e todos ficavam extasiados com a sua beleza.

Procurados com a ânsia da descoberta, os ninhos de qualquer ave eram respeitados, para garantir que a espécie continuava. O desenvolvimento da criação era seguido com curiosidade e atenção, ao longe.

- Já tem dois "seixos". Não se pode mexer. Enjeitam ...

Todos viviam na crença de que os ovos eram "seixos" e que chamar-lhes pelo nome correcto ou mexer-lhes podia significar o abandono do ninho pelos pais. Assistia-se ao desenvolvimento das crias, primeiro completamente nuas, depois com a penugem, a seguir as primeiras penas, até que um dia, quando se chegava, só restava o ninho. A família tinha partido, para se dedicar à vida normal, deixando o lar para algum cuco que dele se quisesse apropriar.

- Já abalaram ...

Graças aos pesticidas que fizeram (ou ainda fazem) as "delícias" da agricultura, os pintassilgos quase desapareceram. Felizmente, parece que estão a recuperar e já se voltaram a ver bandos pousados nos caniços, os quais, à aproximação dos humanos, levantam naquele voo gracioso e único, chilreando com uma musicalidade que é única na natureza. 

Há uns dias, um pintassilgo pousou na parede do meu escritório e passou a fazer-me companhia diária. Não canta nem voa, a não ser na imaginação do dono, mas que é bonito, é.

1 comentário:

Anónimo disse...

Lindo! Parabéns a quem sabe pintar tão bem e com amor dedicado! És um sortudo.