quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Melros

Quem, como eu, os conhece desde a infância, não estranha o seu comportamento esquivo, na procura dos seus interesses, mesmo atropelando os de todos os outros. Muito mais espertos que os pardais, os melros movimentam-se pela calada, escondem-se na vegetação, voam para longe quando lhes cheira a esturro e só cantam quando têm garantida audiência e se encontram bem protegidos. 

Habituei-me desde cedo a conhecer os melros que, com maior ou menor desfaçatez, me foram surgindo pela frente, sem dar às asas mas insinuando-se de forma subtil para, de uma forma que parecesse lícita, voarem até ao alvo pretendido. O importante, para esses melros era, e é, evitar a frontalidade, mesmo quando infringem todas as regras, nomeadamente aquelas pelas quais garantem reger-se.

Apesar de, como o cântaro, já ter ido tantas vezes à fonte, ainda dou por mim a perguntar porque razão determinado melro seguiu esta ou aquela estratégia, varrendo para debaixo da mesa princípios éticos que sempre apregoou, procurando soluções que sempre disse abominar e, apesar das evidências, ainda é capaz de colocar o seu angelical rosto de santinho, pretendendo fazer crer que não contam com ele para partir um prato, muito menos o guarda-louça.

Nestas ocasiões, apetece-me sempre puxar do adágio e dizer-lhe, em voz bem alta e sem receios, que confio muito que talvez vás à lã e venhas tosquiado.

1 comentário:

Anónimo disse...

Conclusão: Melros são passarões!...