sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

Água

Nos últimos dois dias, as nuvens foram inclementes e despejaram milhões de litros de água, talvez para responderem aos inúmeros apelos de chuva efectuados no Verão passado. Todavia, não levaram em linha de conta que os campos há muito desapareceram das grandes cidades e foram substituídos pelo betão e pelo alcatrão. A água deixou de ter espaço para se infiltrar e passou a encaminhar-se para nenhures. Na época das chuvas, as vielas passaram a ser riachos, as ruas, ribeiros e as avenidas rios caudalosos, com apertados leitos entre os prédios construídos a eito.

Naturalmente e como é costume por cá, a "desgraceira" antecipou-se e surgiu logo na altura em que os projectos para resolver o problema, há muito pensados, estavam praticamente prontos e em vias de serem concretizados a breve trecho. Há anos que as autoridades vêm dando o seu melhor na busca das soluções e tinha de ser agora, quando tudo estava a postos para ser ... bem estudado durante mais uns tempos.

Os prejuízos são incalculáveis e foram relatados por pressurosos repórteres televisivos, com a clarividência do costume, em entrevistas feitas a muita gente que nada presenciou e sabe tudo ... de ouvir dizer. Os estragos são visíveis e tudo aconteceu por falta de limpeza das sarjetas e por os alertas terem chegado depois de a intempérie se ter desencadeado. 

O Ministério Público, sempre atento a tudo o que se passa, aguarda a conclusão do rigoroso inquérito que entretanto será aberto, com vista ao apuramento das responsabilidades criminais que, alegadamente, deverão existir numa situação destas e que, claro, serão devidamente punidas.

Alegadamente, todos apontam para a responsabilidade total de S. Pedro. A vontade de o incriminar por estes desmandos é inabalável, sendo grande a azáfama no recolhimento das provas, irrefutáveis, mas difíceis de concretizar a curto prazo, dada a escassez de meios humanos e a exigência do trabalho a desenvolver.

Entretanto, alguns estudiosos comentadores ou comentadores estudiosos, já expressaram as suas grandes preocupações e avançam com as dificuldades que irão surgir na concretização do julgamento. Não deverá ser possível conseguir a apresentação em Tribunal do, sempre alegadamente, responsável por tudo o que aconteceu, o que inviabilizará a sua condenação.

Razão para mais uma impossibilidade da justiça: S. Pedro está em todo o lado mas não tem morada certa. Não deverá ser possível ao Tribunal conseguir notificá-lo e dias e dias de imenso trabalho serão deitados ao lixo ou à água que correrá pelas ruas, assim que surgirem mais umas nuvens com chuva a sério. Dizem os experimentados nestas coisas que o processo que seguirá para o Tejo terá sempre mais de 5.000 páginas e 100 dossiers.

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