segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Estonar

Estonar: 1. tirar a tona, a casca de; descascar. 2. tirar a pele de; pelar. 3. chamuscar, queimar. 4. raspar superficialmente (a terra). 5. cobrir (rego de semente) com terra do rego vizinho. (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa)

Os trabalhos agrícolas efectuados na quinta eram, na altura, ainda pouco mecanizados, sendo necessário recorrer a muito trabalho braçal, por vezes violento, recompensado com pouco e extremamente exigente, fosse qual fosse o ângulo que se encarasse.

Para cerca de trezentos hectares, dos quais apenas talvez uma dezena fosse de floresta, havia três tractores de pneus e dois de rastos, e eram suficientes para o trabalho que executavam. Todos os operadores destas máquinas tinham outras tarefas e mais de metade dos dias do ano elas não saíam das garagens, ou melhor, dos telheiros onde se encontravam. 

Estavam ainda longe os tempos das máquinas de semear, plantar, podar, cortar, vindimar, pulverizar e até de regar. Hoje, os automatismos lideram a actividade agrícola, os computadores controlam e dão informação e seria impensável voltar aos tempos idos. Basta olhar para as plantações de alho francês que acontecem aqui bem perto, para verificar que uma extensão enorme daquele vegetal, que cresce e é colhido em pouco mais de um mês, tem intervenção de duas, três pessoas na plantação e de quatro ou cinco para colher, encaixotar e carregar. A forma como aquilo cresce e se apanha em tão pouco tempo não vem ao caso e é melhor nem pensar nela.

A estona era uma tarefa pouco exigente do ponto de vista físico e consistia em cortar as ervas e enterrá-las para fertilização das terras. A sua "brandura" permitia que fosse executada maioritariamente por mulheres, equipadas com sacholas mais pequenas do que as enxadas tradicionais.

E porque me lembrei eu, velho, destas coisas de antanho? 

Depois de amanhã, vou almoçar com umas amigas e uns amigos (assim fica bem mais bonito) e está previsto que a iguaria seja cabrito estonado. Todos saberão que a estona do cabrito não é feita com sachola e muito menos com enxada, e calcularão que este arrazoado todo apenas serve para comprovar que a língua portuguesa é muito bonita e extraordinariamente rica, ao contrário do país, que continua pobre, ainda que mecanizado.

2 comentários:

Anónimo disse...

Para apróxima podes convidar que também vou.

Anónimo disse...

O GPS indicará o caminho?...