domingo, 11 de dezembro de 2022

Encontros

- Bom dia. Já não me conhece?

Ia completamente distraído, a pensar em tanta coisa, que os olhos não cumpriram a função que lhes está destinada e a pessoa passaria completamente ao lado se não se tivesse manifestado.

De máscara, bem mais magro do que (já) estava na última vez que tínhamos falado, há alguns meses. Fiquei sem jeito, mas lá me consegui recompor. 

- Desculpe. Ia a pensar ... não o vi. Como é que vai?

- Mal. O raio do bicho parece que agora me está a atacar as pernas. As veias estão entupidas e só vou ter consulta do especialista em Abril.

Era um homem danado. Sempre com pressa, que o trabalho fugia e não havia mãos a medir. Mal havia tempo para um café e o cigarro que se lhe seguia era acendido já na despedida. O bicho não teve contemplações nem foi sensível à importância para a sua pequena empresa e para os que nela trabalhavam. Não eram muitos - três ou quatro - mas passaram a gente desempregada. Talvez, entretanto, tenham arranjado outro emprego. Afinal de contas, eram bons operários, para lhe aturarem a exigência e o ritmo.

Arrasta-se com dificuldade. Tem vontade de conversar mas a respiração, difícil, não ajuda muito. Já não tem pressa ... o que tem a fazer pode esperar.

- Veja lá ... só para Abril!

Sem comentários: