quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Máquinas

O automóvel era uma maravilha. Pintura metalizada, estofos em pele, tablier em mogno, instrumentos modernos, alavanca de velocidades catita, motor silencioso, aceleração rapidíssima, velocidade quase supersónica, automatismos vários e perfeitos.

Teve anos de utilização contínua, sempre na máxima força e parecendo que o tempo não deixava marcas nem diminuía capacidades. Era um Rolls Royce, quer rolasse em autoestradas, subisse montanhas ou descesse aos infernos. Não existia nenhum outro que se lhe assemelhasse.

O tempo foi passando. Apareceram os primeiros riscos na pintura, o brilho foi-se desvanecendo, nos estofos surgiram algumas nódoas e, vendo bem, iam aparecendo alguns buracos, embora pequenos. O motor deixou o quase silêncio e elevou o ruído, por vezes parecendo que se iria desconjuntar em breve. As ultrapassagens tornaram-se lentas e mais difíceis, ainda que a velocidade se mantivesse em alta, quando comparada com a maioria dos outros veículos em circulação.

Apareceram máquinas novas, algumas com GPS incorporado, garantindo segurança, velocidade, automatismo, e, veja-se só, passaram a ultrapassá-lo com facilidade e alguma desfaçatez.

Chegou a altura de recolher à garagem e de limitar cada vez mais as saídas e, sobretudo, as viagens longas. Mantém-se um carro excelente, que fica na história, marcando um período de ouro. Nunca será esquecido por quem gosta de automóveis e, até, por quem não tem grande admiração por eles.

As condições para grandes viagens desapareceram. Vai continuar a proporcionar pequenos passeios, com elegância discreta, que é a forma de todos lhe renderem a admiração que merece.

1 comentário:

Anónimo disse...

Parece o CR7……