Não existe. Está presente. Sorri, às vezes sem razão aparente, noutras parecendo que está a entender o que se diz. A mão deixou de se movimentar para o cumprimento. Nada o aproxima e tudo o afasta. Dão-lhe a comida na boca e parece que isso lhe dá algum prazer. Sorri, a olhar para a colher. Saboreia, sem sofreguidão. Não se lhe escuta um som, uma palavra, nada.
E tanto que ele gostava de falar. Desloca-se com dificuldade, na cadeira de rodas que a mulher ou o filho empurram. Meia dúzia de passos, para ir mantendo alguma força nas pernas, mas sempre amparado.
- Tenho muito medo que escorregue, mesmo segurando-o.
Não tem memória. Os olhos vêem e não transmitem nada. Talvez o coração sinta, quem sabe. O cérebro parou e as reacções são escassas, esgares apenas. A malvada doença sacou-lhe tudo, até a dignidade.
A dedicação da mulher é enorme, o trabalho, uma luta inglória, noite e dia. Oficialmente está vivo. Estará?
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