Ocupa as mãos, a mente e a atenção, mesmo a intuitiva. É um elemento imprescindível na indumentária moderna, incluindo para aqueles que raramente o utilizam, quase o detestam e têm algumas dificuldades no seu manuseamento.
- Não tens telemóvel?
- Claro que sim, era o que faltava, mas não uso muito.
Quem assim responde está a necessitar de uma intervenção "ecológica", talvez parecida com a do lince e da serra da Malcata. O aparelhinho é fundamental nos dias de hoje. A sua versatilidade é imensa e os novos fazem tudo, até chamadas telefónicas e SMS. Cada vez é mais utilizado e, pouco a pouco, vai substituindo a necessidade de cérebro para executar o necessário, do trabalho ao lazer, do ócio ao prazer.
O botão de chamada do elevador foi premido e, enquanto se aguardava a chegada, foi-se preparando o acesso - password, aplicação de mensagens, destinatário - para que, em dois caracteres, se comunicasse o piso de destino. A porta abriu-se, a entrada foi feita, o botão do 1 premido. Daí a pouco, ainda a mensagem não tinha seguido, de novo a porta do transportador se abriu e a saída aconteceu. Mensagem enviada, surgiu no aparelhinho.
As cadeiras da sala estavam quase todas ocupadas. Lá ao fundo, duas livres, no cantinho. Bom sítio. O telemóvel foi emudecido que o sítio não é para barulhos, o livro aberto e a leitura, interessante, foi iniciada.
O tempo passa depressa para quem desespera e não consegue ser atendido de imediato. Parece que terão passado mais de cinco minutos. Uma eternidade! Por pressentimento ou gesto mecânico, a mão foi ao bolso e os olhos espreitaram o ecran.
- Curioso ... está a ligar. Não consegue arranjar lugar para o carro.
- Onde estás?
- Sentado, a ler, aguardando que o número apareça.
- Não pode ser. O médico veio chamar-te e eu fui ter com ele. Pensava que estavas na consulta. Afinal ... Disse-me que já era a segunda vez que te chamava. Agarrei-me ao telemóvel e tu não atendias ... pedi ao segurança para ir à casa de banho ver se lá estavas ...
O elevador tinha descido sem disso fazer eco. Despistado, saiu sem sequer olhar para o -1 escarrapachado na parede, em tamanho bem grande. Sentou-se, tranquilo, com o olhar atento aos números que iam desfilando no ecran, à espera que aparecesse aquele que estava no papelinho e lendo mais uns parágrafos, sem ligar ao tempo que tanto corre no piso certo como no errado.
- Desculpe, doutor. Não me apercebi que o elevador tinha descido em vez de subir ...
Tudo acabou bem e ninguém morreu. O pânico foi apenas um pormenor e a culpa, essa, sem dúvida que foi do elevador, que deveria ter cumprido a ordem de quem lá estava dentro e não de outro qualquer espontâneo que o desejava no -1.
Moral da estória: se é despassarado, use sempre as escadas.
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